março 28, 2007

30 anos.

março 26, 2007

O ideal seria fazer tudo com o piloto automático desligado. Voltar a sentir. Girei a chave na ignição, e ouvi o barulho do motor. Liguei os faróis, e acelerei um pouco. Dei a ré, manobrei entre os carros. Pisei no freio. A luz vermelha refletiu na parede branca da garagem. Dei mais um pouco de ré, entrei na vaga e fui até o fundo, acelerando um pouco mais. Parei. Ouvi o barulho, passando as mãos no volante. Desliguei. Abracei o volante, e dei um beijo. Virei rápido o rosto. Eu não queria chorar, não queria... Fechei a porta, e ainda olhei mais um pouco para ele. Todo vermelhinho. Um dos amores da minha vida. E me despedi. Obrigada, Dequinho. Por ter sido meu companheiro infalível nos últimos dez anos. Vou sentir saudades...

março 23, 2007

A impressão que eu tenho é de que, de repente, resolvi crescer. Como se tivesse que provar algo para o mundo nesses poucos dias que separam os 29 dos 30. Preparei propostas. Pensei em economias para planos futuros que podem ser concretos. Não gastei em bobagens. E tive pesadelos a noite toda depois de tomar a decisão de que estava na hora de deixar o meu ursinho vermelho, que sempre amei muito, de lado. Mais um passo hoje. Na realidade, uma corridinha. Vou ali. E já volto para contar.

março 21, 2007

A casa que João Abelardo avista com portões arriados se anuncia em sorriso e baba, nas costas das mãos que enxugam os lábios. João Abelardo balbucia um até-que-enfim e ainda suspira como um velho. Ou como um bêbado. A gorda já disse que tomar cachaça envelhece, e é para ele parar de suspirar. João Abelardo sempre escutou que roupa suja se lava em casa. Mas a essa altura ele já não tem mais casa. Sua mulher já não lava suas roupas e diz que ela não presta. Por isso João Abelardo que provar hoje que existe e João Abelardo foge de sua casa e vai parar em frente à porta com luzes multicores.

Como se moesse ferro, de Altair Martins

março 20, 2007

Eu tive quatro anos de carinho pela Casa de Cultura. Eu tive quatro anos de convívio com o Sergio Napp, que me ensinou a sentir muito do carinho verdadeiro que ele tem pela Casa de Cultura. Mesmo afastada de lá em janeiro, mantive contato com pessoas queridas, que me contaram atualizações sobre a Casa. Muita coisa me revoltou. Me esforcei para esquecer, para deixar tudo isso de lado. Fui chamada de amarga, por tecer críticas aos novos métodos de trabalho dos novos funcionários da nova Secretaria de Cultura. Mas, simplesmente, não consigo ser uma barata insensível. E novos fatos, acontecidos ontem, concretizam a minha revolta na forma de um grande ponto de interrogação.

A única coisa que eu pergunto é POR QUE.

O Seu Vitor foi exonerado. Depois de mais de 13 anos de serviço. Não existe sequer justificativa política para isso. Eles prometeram consertar a situação, mas não sei como ficou.

Depois da exoneração em janeiro, quase todos os cargos da CCMQ permanecem sem substituição. Ou pior: foram dados para novos funcionários, que estão trabalhando em outros locais. Deserto total.

Grande parte do acervo da Biblioteca Pública será levado para a CCMQ. Isso vai representar muitas alas, andares, setores desativados. Por quê? Se até mesmo eu sei que existia uma proposta de levar a biblioteca para o Cais do Porto, e reativar o espaço em períodos fora da Feira do Livro. Para vocês terem uma idéia: além de salas de oficinas, até mesmo salas de exposição serão ocupadas pelos livros.

E o grande golpe de ontem: exoneraram o Luiz Carlos Pighini. Não sei dizer há quantos anos ele era diretor da Cinemateca Paulo Amorim. Mas acompanhei bem de perto a batalha dele para que os cinemas da CCMQ não fechassem, depois que perderam o patrocínio do Unibanco. O que vai acontecer com a Cinemateca agora?

A instituição Casa de Cultura Mario Quintana praticamente não existe mais. Seus teatros foram repassados ao Instituto Estadual de Artes Cênicas. Todas as galerias agora pertencem ao Instituto de Artes Visuais. A Biblioteca Pública desalojou o Núcleo de Artes Visuais.

Não quero mais aguardar os próximos capítulos. Porque, contrariando as minhas mais otimistas expectativas, cada notícia nova consegue ser muito pior que a velha. Minha esperança é que, ao escrever isso, eu supere um pouco, me distraindo com outras coisas. Porque, se o ritmo permanecer, a pouca cultura que já existe no RS terá que ser reconstruída a partir de escombros.

Agüenta Casa!!! Rezo pelo retorno dos teus tempos áureos. Tempos de valorização e verdadeiro incentivo à cultura. Época que, infelizmente, eu não presenciei como funcionária. Somente como visitante. Volta 1990!

março 18, 2007

Faltou luz na casa dos meus pais quase todo o domingo. Eu parecia um celular, apitando bateria fraca. E, sem energia elétrica, acabei apagando e dormindo muito. Sem força nenhuma.

março 17, 2007

Feliz aniversário, Déia! Mazal Tov! Tudo de muito bom!

Não vou apelar ao habitual exagero e dizer que as formigas "invadiram" a minha cozinha. Mas, no café da manhã de quarta-feira, ver quase 100 delas percorrendo a parede de azulejos, para cima e para baixo, me fez bolar um plano estratégico. Essas aventuras domésticas. Primeiro, não desisti do meu café com leite, quente e como eu gosto. Fui tomando. Passando mais um pouco de geléia no pão. Fui comendo. E observando as criaturas. Umas subiam, e outras desciam. No meio do caminho, algumas pareciam se esbarrar. Como quando tu caminhas na rua, vai desviar, e o outro desconhecido desvia para o mesmo lado, e quando se aproxima dá uma esbarrada de leve e diz Desculpa, desculpa aí... Ou se for um dia péssimo, ainda dá um impulso e tudo vira encontrão mesmo. Droga! Bom, as formigas. Umas se esbarravam, e pareciam pedir desculpas. Outras paravam, e conversavam um pouco. Talvez sobre aquele nariz gigante que estava observando o trabalho delas. E olhando com detalhes, percebi que a fila ia para lugar algum na parte de baixo, perto do chão. Mas a outra extremidade estava situada num buraquinho, numa falha do rejunte. Algumas entravam ali e não saíam mais. Consultei o Google. Na mosca. Ou melhor, na formiga! Hoje em dia, com a ajuda da Internet é possível ser uma dona de casa exemplar. Posso estar ali escrevendo um texto e, no intervalo, descubro como me livrar das formigas. Os sites indicavam cravo-da-índia para os armários. Limões cortados (e murchos!!!) para a pia da cozinha. E todos eram categóricos: nada de sair matando as formigas ou jogar veneno no buraco. Fechá-lo era mais do que o suficiente. Eu não tinha aqueles tubos de silicone, não tinha uma barra de sabão. Abri a geladeira (ela, sempre ela!!) e achei o Super Bonder. Dois segundos, uma passada de pano no azulejo para afastar as mais próximas e pá!!! Fechado. As exatas 79 que ficaram do lado de fora enlouqueceram e logo estavam fora do páreo. Contei feliz para todo mundo a minha façanha. E, pior, eles também foram categóricos: Porto Alegre está tomada de formigas. Todos os bairros. E, sim, "elas vão achar outro buraco, lindinha." Ai... Voltei para casa à noite e lá estavam elas... Saindo por outro buraco! Passei o pano, limpei, e fechei. Depois, outro buraquinho. Pano, limpeza, cola! Hoje pela manhã, vi que elas estavam saindo pelo buraco da tomada. Com a eletricidade. Choque total. E agora acabei de ver uma no teclado do note... Peraí... dyt´jkrhóqWEF~M [p8o hn´joj0i3ig0qrjo´h13g
VFPOHE´JO... jnmmeytum i,68º.)`r99509-j50... Deu. Elas tomaram conta. Seqüestraram a cozinha... Agora, querem o meu trabalho também! Lá vai a triônica... Formiga Atômica!

março 16, 2007

Pequenos tormentos da vida estão impedindo que eu encontre o meu melhor amigo nessa semana. Tudo bem. Estou com saudades. E não vou permitir que essa distância continue. Ou pior: não vou permitir que essa distância cristalize e se instale. Ok?

março 13, 2007

A Livraria Cultura deveria me ajudar. E me deixar entrar lá só uma ou duas vezes por mês. Pois eu almoço no shopping, acabo dando uma passadinha, bem rapidinha, achando algo, e... comprando, é claro. Hoje, para fugir do calor, fui almoçar no Bourbon Country. Comi. Relaxei. E só fui dar um "oi" para as prateleiras da Cultura. Só um "oi"... Na primeira estante, encontrei algo muito legal. Um livro pequeno, capa dura e com uma edição cuidadosa. Paixão à primeira vista. O exemplar faz parte da coleção Pequenos Frascos da Editora Unesp. E a proposta está impressa na contracapa: "Livros transformam. Só alguns são breves. Pequenos fracos". Como não cair de amores? Comprei o Como escolher amantes e outros escritos, do Benjamin Franklin. Abri o livro. Surpresa... Um Franklin com encanto e humor. Gostei muito dos trechos que li. Tinha que comprar. E cheguei no caixa, ganhei o desconto Mais Cultura, e ainda R$ 10,00 de bônus. Esse é o meu mundo perfeito. Viciante...

A pessoa descobre que a radicalização é um caminho sem volta quando, depois de raspar a cabeça duas vezes, resolve deixar o cabelo crescer e corta normalzinho de novo... e ninguém nota.

março 11, 2007

For me
For you
For me
It's always for you

This sand is not asleep
It's moving under my feet


Eu, encantada pelo CD novo do Arcade Fire. E desconsiderando qualquer informação contrária a isso... Bom domingo. Domingo bom.

março 07, 2007

Alguns dias são muito certos. Outros são errados. Sem explicação, sem a mínima explicação. Hoje, foi um dia errado light. Como Coca Light ou Coca Zero. Na hora é bom, mas depois o sabor residual te incomoda por horas. Cheguei a receber boas notícias. Ponto pra mim no placar. Mas as coisas chatas também marcaram no score. Chatas, não... Chatinhas. Como aquela dor de cabeça que não te derruba, mas fica martelando. De leve e sempre. Tô aqui, tô aqui, tô aqui... Me irritei com um taxista no minuto que saí do portão do prédio. Me irritei no estacionamento, porque tinha um carro bem atrás no meu. Me irritei no trânsito porque abriram (e não fecharam!) um buraco no ponto mais crítico da rua Anita Garibaldi. Ou seja, três irritações e eu estava apenas a quatro quadras de casa, às 8h45min. O que se seguiu foi patético. As coisas acontecendo, e eu me irritando. De levinho. Mas me irritando. Assim foi até o fim do meu expediente, às 19h, quando desliguei o notebook e me atirei no sofá de casa. Não, ele não rasgou ou se arrebentou no chão... Mas estava um calor insuportável, que não agüentei ficar ali um minuto sequer... E fui me esconder dentro da geladeira.

março 05, 2007


Fim de semana em Gramado e Canela com Mr. Flag. Friozinho no sábado à noite. Jantar no Pastasciutta. Sol e nuvens no domingo. Compras e chocolates. Passeio para afastar o estresse. Risos e paisagem para afastar o mala-sem-alça profissional. Xô! Xô!!

março 04, 2007

Com vocês, The Magnificat.

A querida Andréia passeou por Jerusalém e arredores nesse fim de semana. E melhor ainda: me brindou com fotos lindas e enfeitou meu domingo com imagens. Na foto acima, uma parede com a tradução do Magnificat para o português, o canto de Maria ao visitar Isabel e saber que ela estava grávida de João. O lugar se chama Igreja da Visitação e fica em Ein Kerem, um vilarejo sagrado.

Saudades, amiga!

março 03, 2007

Às vezes, eu acho que sou uma espécie em extinção. Eu e alguns amigos. E isso não tem nada de especial, pois carrega a mesma dramaticidade da vida real, das coisas que são boas e acabam ou somem. Eu ainda tenho pudores ao chamar alguém via MSN. "Olá. Estou atrapalhando? Pode falar comigo?". Eu ainda digito as palavras inteiras, e me corrijo se a digitação rápida imprimir um erro na tela. Dou risadas. Se estou gostando de conversar e se quero que a pessoa saiba disso. "hehehehehehehe". Depois da conversa, eu dou tchau, me despeço. Combino um encontro outra vez, ou desejo algo bom. "Boa sorte no trabalho amanhã". Eu não colo muitos smiles, mas me sinto culpada em não dar atenção, se puder... É claro... Em alguns momentos é impossível fazer qualquer uma das coisas acima. Compreensível. O que eu não entendo é todo esse universo monossilábico. O cara me chama no MSN direto com uma pergunta seca. Depois da resposta, não escreve mais nada. Fica ali on-line, parecendo ofendido, ou grosseiro, ou qualquer coisa ruim. Ou, de soco, off-line. Escreve muitas abreviações. Ou se limita a sim, não, sei lá. E também por e-mail, se mando uma mensagem começando com "Prezada Fulana, tudo bem?". Explico tudo, dou as informações com atenção, para gerar o mínimo de dúvidas. Me despeço. "Um abraço". "Um grande abraço", se conhecer a pessoa. "Um grande abraço e qualquer coisa que precisar de Porto Alegre, pode pedir", se tenho muita consideração pela pessoa. E recebo de volta, exato um minuto depois, a palavra "Obrigada"... Eu me sinto horrível. O mundo digital é rápido. Mas desgasta com a mesma velocidade. E também facilita que a falta de gentileza se espalhe como macega.

março 02, 2007

Uma das práticas de 2007 é a contemplação. E ela é perfeita para os períodos em que não temos pressa, em que simplesmente evitamos essa ditadura do relógio. Eu saio caminhando de tênis ou sapato confortável, passeando por ruas que sequer havia passado de carro. Novos cenários: calçadas, edifícios, casas, janelas. Caminho olhando para cima, para os lados, para trás, para a frente. Girando o corpo, um pé após o outro. Hoje, voltando da locadora, contemplei pela milésima vez a minha rua. Do portão da entrada, avistei a janela do quarto do meu apartamento. A veneziana estava toda aberta e somente uma ponta do quadro da parede se mostrava. Tomei o maior susto. A impressão era que eu enxergava uma caveira, como essas de piratas. Me apavorei. Embora soubesse que a imagem é totalmente abstrata, feita por formas geométricas. Ui. Verdadeiramente, às vezes, olhando tanto, podemos encontrar coisas assustadoras. Ou, no mínimo embaraçosas. Como na vez que vi o vizinho jovem médico veterinário da casa da frente pelado... Tá, tá... Essa parte é mentira. Ele estava só de cuecas... Puxa...

Aprendi que ninguém é escritor sozinho. Que efusões líricas são derramamentos térreos, pedestres, rasteiros, que não se destinam a lugar algum. Aprendi que literatura não é salvação. Literatura é só literatura. Que o melhor é montar essa coisa intricada e exasperante, essa coisa que deve parecer fácil, quando não há nada mais complexo, essa coisa que deve parecer verdadeira, mesmo que seja fruto de ilusionismo e prestidigitação.

Por que sou gorda, mamãe?, de Cintia Moscovich

março 01, 2007

Fiz um planejamento legal de leituras. Nos últimos anos, comprei/ganhei muitos livros, e não encostei em quase nada. A idéia é acelerar, aprimorar e apresentar algo. Ao terminar de ler, publicarei um trecho aqui no blog. Aleatório, significativo ou interessante. Começo com um pouco de atraso, e sigo... Vai o primeiro da série.

"Falei 'O espetáculo de outono nesse outono é Hamlet, caso esteja interessada. Serei Yorick. Temos uma fonte que funciona de verdade. Se quiser vir à noite de estréia, é daqui a doze semanas. Acho que vai ser bem legal.' Ela disse 'Vou tentar', e pude sentir o ar de suas palavras contra o meu rosto. Perguntei 'Será que poderíamos nos beijar um pouquinho?' 'Perdão', ela disse, ainda que, por outro lado, não tenha recuado a cabeça. 'É que eu gosto de você, e acho que sei que você gosta de mim.' Ela disse 'Não acho que essa seja uma boa idéia.' Decepção nº 4. Perguntei por que não. Ela disse 'Porque tenho quarenta e oito anos e você tem doze.' 'E daí?' 'Sou casada.' 'E daí?' 'E nem conheço você.' 'Não tem a sensação de que me conhece?'"

Extremamente alto & incrivelmente perto, de Jonathan Safran Foer

Meu amigo Napp me ligou, e perguntou se eu tinha verificado o saldo de uma conta no banco. Respondi que não... Como era uma conta só para receber o salário de um emprego que eu não tinha mais, depois de limpar e levar embora até a poeira, nunca mais consultei nada. Pois bem. Fui conferir. E tinha uma boa quantia depositada lá. Ninguém me avisou oficialmente sobre isso. Mas, assim como Papai Noel e Coelhinho da Páscoa, eu acreditei e aceitei. Meu sorriso foi de lado a lado no rosto. E fiquei pensando como nossa trajetória pode estar repleta de surpresas, como mini-mini-mini-Mega-Senas da vida. Mas, ainda sim, um prêmio. Ah, maravilha...