Existe uma tensão dentro da gente depois que temos uma conversa séria com alguém. Um tipo de papo que é extremamente necessário, e no qual devemos ter o maior cuidado do universo. Todas as palavras podem ser ditas. Bem-sucedido é aquele que, mesmo com o início da tensão, consegue construir frases sensatas, objetivas, concretas. E que tenham sentimento. Caso contrário, pode ter o mesmo efeito de uma faca. Gravada bem no meio do peito. Tudo pode começar com um: "sabe aquelas fotos? Te enviei hoje". O diálogo passa por inúmeras fases. Pode até ter momentos de nervosismo latente. Pode quase chegar no choro. Mas no final, além da tensão, um único sentido deve permanecer: "gosto muito de ti. Estou preocupada. Mas pronta para ajudar no que for preciso. Conta comigo. Vamos superar essa, amiga".
julho 28, 2005
julho 26, 2005
Uma vez eu era criança. E sentava na frente da televisão a tarde toda. Sessão da tarde, na época em que era boa. A fantástica fábrica de chocolates, Curtindo a vida adoidado, Clube dos cinco, A Garota de Rosa Shocking, O feitiço de Áquila. Me lembro de achar a Michelle Pfeiffer a mulher mais linda do mundo. Ficava apavorada com a maldição do bispo: de dia, Isabeau sempre seria um falcão. E de noite, o cavaleiro Navarre (interpretado pelo Rutger Hauer) tomaria a forma de um lobo. A história se passa no século XII. Criança, eu ficava impressionada. Mas acreditava que este tipo de história nunca poderia acontecer na vida real. Vinte anos depois do lançamento do filme, minha teoria se desfez. Mesmo sem virar águia ou lobo, eu e Mr. Flag raramente nos encontramos. Lembra a cena do amanhecer: quando ele de lobo-para-homem enxerga ela, de mulher-para-falcão, durante um segundo... Quando Mr.Flag chega em casa, eu já estou dormindo... Vejo ele com o canto do olho e me perco no travesseiro. Quando eu saio pela manhã, quem está dormindo é ele. Tenta levantar, me dar tchau, mas acaba perdendo a luta para o edredon. A única diferença é que nosso Bispo de Áquila não é uma pessoa. É uma necessidade. A de sobreviver e pagar as contas, sem se importar com os empregos e horários que aparecem pela frente.
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Arre, estou farto de semideuses!
Fernando Pessoa
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julho 21, 2005
No fim das contas, tudo foi um alarme falso. A livraria que anunciou o tão esperado exemplar de Vida modo de usar, do Perec, abriu o jogo na última terça-feira. A obra está mais do que esgotada. Disso eu já sabia. O que eu desconhecia era esse sentimento insosso de querer algo que não existe mais. Ou algo que está tão, tão, tão escondido, que os que possuem sequer se arriscam a anunciar, temendo o inevitável ciclo do emprestar-e-nunca-mais-enxergar... Sei que posso tirar o livro na biblioteca. O farei, com certeza. Mas juro: será como sexo casual. Que terminará com o até algum dia. Já passei dessa fase. Quero esse francês só pra mim. Agora!
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julho 16, 2005
Na maioria das vezes, o grande medo da vida é esse: de que nada aconteça. Mas, em certas ocasiões, algo imenso, de grande responsabilidade, cai no teu colo e diz: vai encarar? Tenho medo dos dois tipos. E passei o sábado inteiro arquitetando soluções para abraçar este projeto que, desde ontem, me desafia. Por seu tamanho, exigência e projeção. Tomara que eu consiga.
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julho 13, 2005
Uma ajuda, por favor. Estou procurando a obra Vida modo de usar, de Georges Perec. Não há reedição prevista. A biblioteca da PUC não tem. Sebos na Internet não têm. Se alguém puder me emprestar, prometo que devolvo. Se alguém puder me dar uma dica preciosa, prometo que agradeço.
Atualização - 15/07: Depois da dica da Cibele, de que posso encontrar o livro na biblioteca da Unisinos (que é um templo a ser adorado), a Maricota (minha irmã), me ligou hoje. Contrariando as previsões pessimistas, ela encontrou o livro. Chega na terça-feira. Termino o Vila-Matas amanhã para receber, carinhosamente, o Perec na semana que vem. Obrigada, Mari!
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julho 07, 2005
Nós somos bonitos e inteligentes. Nós escrevemos bem. E já temos um livro pronto. Se você é cheio da grana, nós precisamos do seu dinheiro. Mande um e-mail para luthome@gmail.com. E nos ajude a editar a antologia dos 20 anos da Oficina de Criação Literária do professor Assis Brasil. Dicas também são bem-vindas.
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Tenho frio. Vejo as petecas elegantes na rua. Nem o nariz vermelho as bonitas têm. Quase nada de roupa, e nem precisam fazer pose de boneco de gelo. E eu com frio. Com botinas confortáveis, quentinhas e feias. Com meias grossas de algodão até o joelho. Com um blusão de lã meio torto, mas tão quentinho. Com uma manta enrolada em todo o pescoço. E, é claro, o pijama todo embolado por baixo de tudo isso. Qual será o caminho mais curto de volta para a minha cama???
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julho 04, 2005
Me recolhi cedo. Na sala, o som dos gritos ensandecidos do Milton Neves. Domingo à noite, com marido boleiro e adepto dos programas futebolísticos... é fogo... Lá pelas tantas, estava lutando contra o sono. Cansadíssima. Eis que Mr. Flag começa a ouvir risadas vindas do quarto. Minhas risadas. Imediatamente, ele pensa que eu saquei da prateleira um livro engraçado e que estava me divertindo muito. O primeiro impulso dele foi levantar do sofá e conferir o motivo de tantas gaitadas. E a primeira reação foi levar o maior susto: eu estava deitada, dormindo, com a cabeça no travesseiro, a luz do quarto apagada, os olhos fechados... E RIA SEM PARAR... As gargalhadas duraram alguns minutos. Pelo jeito, a piada mais engraçada e misteriosa da minha vida.
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Todo o funcionário-trabalhador-operário-padrão deveria ter o direito de escolher, uma vez por mês, um dia para faltar ao trabalho durante a semana. Ficar olhando Sessão da Tarde, tomar chá bem quentinho, comer uma cuca doce e se lambuzar com o recheio de banana e canela. Olhar pela janela a chuva molhando as criaturas. E ter uma única preocupação: amor, levanta e ajeita o edredon? Meu dedinho está de fora...
Postado por Lu às 6:15 PM 0 quilo(s)