“A primeira vez que encostei no teu peito, ele batia fraco, leve, quase um compasso que acalmou meus sentidos depois de tanta luz e agito. Me aninhei de leve, um pouco sem jeito nós duas. Eu quase sem olhar, com as pálpebras fechadas. Tu, pelo que me contaram depois, enfrentava o susto da cirurgia e da perda de sangue, mas registrava com os olhos todos os milésimos de segundos desse nosso contato inicial. Perto do teu peito, abri os olhos pela primeira vez. E te vi. Sorridente, com os cabelos soltos e encaracolados. E, mesmo sem saber, tentei sorrir, de qualquer jeito e entortando os lábios, mas querendo te mostrar que eu estava feliz. No teu peito eu encontrei minha força para crescer, meu alimento, meu alento, toda a embriaguez de carinho que vivo desde então. Foi assim, bem de perto, que vi teus olhos mudarem. Choravas como eu em alguns momentos, e me questionei do que seria essa fome que tinhas. Mas eu não entendo o mundo ainda. É difícil, complexo. O nosso contato e sentidos compartilhados é que me fazem desvendar tudo. Então, com minha mão, encostei de leve no teu peito para perceber novamente o teu coração. Eu estava lá dentro. Pude sentir. Mas notei uma diferença. Ele batia, é verdade. Mas uma parte parecia oca, quase seca. Está doendo, mamãe? Não respondeste. Mas eu senti que sim. Segurei teu rosto de leve, e tentei ampará-lo para te dizer que tudo iria ficar bem. Temos uma a outra, e temos leite. Muito leite para a nossa fome, para crescermos juntas e descobrirmos a vida e esse mundo que me parece cada vez mais imenso. Fica quietinha, mamãe. Eu vou cuidar de ti agora. E com todo o meu jeitinho e o carinho que me ensinas todo o dia, entrarei no teu coração, e preencherei esse vazio, expulsando a dor e fazendo dele um lugar só nosso. Só nosso.”
3 comentários:
Lindo.
Homenagem para as duas fofuchas no post abaixo. :-)
Beijos!
Linda, Lu!
Teu coração é maravilhoso!!
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