Festas de fim de ano poderiam ser extintas. Quanto menos intimidade existe entre os convidados, mais bizarra parece ser a cena que se constrói depois de meia centena de latas de cerveja. E você, que não bebe, parece ser o único na platéia. Os colegas, antes comportados e polidos, gritam ao mesmo tempo, sambam, se xingam, derrubam (obviamente) todos os copos de vidro disponíveis no chão. O colega que passou o ano inteiro calado vai fazer questão de recuperar o tempo perdido em apenas 30 minutos. Uma televisão saída do nada exibe o show do rei, no volume máximo que o aparelho e os ouvidos podem suportar. Gritos, mais gritos e mais gritos. No meio do histerismo, mais gritos de crianças, agora machucadas com os braços e pernas raladas depois de correrem feito loucas e se arranharem nas pedras do calçamento. Nada faltou: sessão de piadas, imitações (algumas reais) de bêbados, brigas de namorados, conspirações mal planejadas, fumaça da churrasqueira improvisada invadindo a garagem. No meio da confusão, de forma estúpida, você, que está ali quietinha, inventa de passar o relatório para o chefe sobre a tarde de trabalho. “Sem visitantes, tudo vazio. A colega não foi no plantão. Deve ter acontecido alguma coisa. Mas ninguém apareceu para visitar o setor em que ela...” Em menos de dois segundos, toda a situação dá duas voltas, e tu passa de colega querida que tentava justificar o injustificável a dedo-duro filho da puta... Mal com a situação, resolve pegar um ar rua, e acaba prensada contra a parede por um velho careca e tarado. Antes de terminar toda a função, ainda enxerga mil bocas em mil ouvidos, falando baixinho, comentando... Eu juro... Só queria ir para casa. Para repetir a mim mesma todas as minhas mentiras.
dezembro 21, 2003
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