setembro 30, 2009

A marmelada voltou. Novamente, reconheço caras de vidro onde eram anunciados diamantes brutos. As personas não deixam de existir. Ok, cada um escolhe a sua máscara. Culpa minha de cultivar o socialmente improdutivo hábito de arrancar máscaras. Pior ainda quando elas caem por si. Porque é chato constatar que o dito gênio é, na vida real, um cara chato, sem graça e mais repetitivo que disco riscado. A fama, as turmas e o mainstream sempre existirão. O papo furado também. O ponto agora é saber selecionar a qual propaganda aderir. No fim, Pynchon tem a mais absoluta e genuína razão. Entre todas as possíveis.

setembro 22, 2009

A segunda edição da Cadernos de Não-ficção, revista virtual de crítica literária da Não Editora, chega à web. Com edição de Antônio Xerxenesky e projeto gráfico de Samir Machado de Machado, a publicação traz um especial sobre Poesia Contemporânea e ilustrações de Ieve Holthausen (imagem da capa) e Marcelo Ferranti. Entre os autores estão Carol Bensimon, Diego Grando, Paulo Scott e Fábio Fernandes. O número dois também apresenta novidades: a seção Prateleiras Comentadas exibe a prateleira de livros e os por ques de um leitor.

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Resumo: clica aí, tchê - www.naoeditora.com.br/revista/

Estou me sentindo na novela que acabou. "Você não faz nada e reclama de tudo, mas eu gosto de você." E os pezinhos em cadência, na ponta, na planta, arrastando, puxando. Eu sempre no samba do convívio social. Sina.

setembro 21, 2009

E o mundo tornou-se tosco demais para que fosse possível respirar fora dessa bolha de condescendência.

setembro 20, 2009

Não consegui dormir. Assim que deitei, meu estômago foi doendo mais e mais e mais, e eu só tinha conseguido marcar o médico pro final de semana seguinte com aquela bosta de plano de saúde. Tinha vontade de beber muito pra me anestesiar, mas só de pensar em ingerir qualquer coisa vagamente alcoólica eu já me imaginava estrebuchando sobre o piso da sala, com uma hemorragia interna, babando sangue que o Churras lamberia da minha boca e do chão depois que tudo estivesse acabado. Revirei o banheiro e os bolsos da calça em busca de analgésicos, encontrei dois comprimidos e tomei os dois ao mesmo tempo. Só fizeram efeito depois de uma hora, e então eu já não tinha mais sono. Fiquei à beira da janela, ora em pé, ora sentado no braço do sofá, acendendo cigarros a intervalos irregulares, soltando a fumaça na brisa da noite, que chegava àquela altura trazendo o cheiro do asfalto morno e das calçadas mijadas. Me debrucei sobre o parapeito por alguns minutos, ficando alguns centímetros mais próximo dos telhados encardidos e dos letreiros em neon dos hotéis baratos que circundavam o prédio.

Até o dia em que o cão morreu, de Daniel Galera

setembro 08, 2009

É como tirar os rollers depois de andar um bocado e sentir que os pés e o chão não se entendem mais. Você quer deslizar, passar flutuando pelas coisas e pessoas, e já não pode. Então pensa Tudo bem, adiante, vamos caminhar agora, caminhem direito por favor, mas não tem jeito de conseguir sem um pouco de tempo, porque os rollers ainda estão em você de certa maneira. O cérebro diz Caminhe, os pés Deslize. E caso alguém venha pela rua, estará pensando: Olha lá um garoto com um grande problema. O que faz com que eu goste cada vez menos das pessoas e cada vez mais da Antônia, que dizia que o mundo era como um monte de gente recém-saída do oculista ainda sentindo o efeito do colírio-de-dilatar-pupilas: nos enche de mais luz do que podemos suportar e por isso ficamos sem ver nada. Mais luz, mais escuridão.

Sinuca embaixo d'água, de Carol Bensimon

*o lançamento em Porto Alegre foi na semana passada. Hoje, às 19h, acontece na Saraiva Higienópolis em São Paulo (SP).

setembro 04, 2009

Nossa! Quanto tempo! Também senti saudades. Dá um abraço apertado aqui e clica na imagem abaixo. Ê, coisa boa.

setembro 03, 2009

- Alô?

- Sim?

- Gostaria de falar com a Luciana!

- É ela quem fala!

- ...

- Alô?

- É a Luciana mesmo?

- Sim...

- Mas tu não tem a voz da minha nora!

- E a senhora não tem a voz da minha sogra.

- ...

- ...?!?

- HAHAHAHAHA. Essa valeu pelo fim de semana.

- HAHAHAHAHAHA. Também achei.

- Gostei muito de falar contigo.

- Eu também.

- Bom fim de semana, mesmo não sendo minha nora.

- Igualmente!

Amizades instantâneas modernas que preenchem o vazio criado pela nossa existência meteórica na direção do desconhecido. Ou: algumas vezes as pessoas conseguem olhar a paisagem. Ou: desculpa, liguei para o número errado.

setembro 02, 2009

A cabeça de Simon estava levemente voltada para cima. Os olhos não podiam se desviar e o Senhor das Moscas pairava no espaço diante dele.

- Que está fazendo aqui sozinho? Não tem medo de mim?

Simon fez que não.

- Não há ninguém para ajudar você. Só eu. E eu sou o Bicho.

A boca de Simon torceu-se com esforço, produzindo palavras audíveis.

- Uma cabeça de porco numa vara.

- Que engraçado achar que o Bicho é algo que podem caçar e matar! - disse a cabeça. Por um instante, a floresta e todos os outros lugares indistintos ecoaram com a paródia de uma gargalhada. - Você sabe, não é? Sou parte de você? Quase, quase, quase! Sou a razão por que ninguém pode ir embora? Por que as coisas são o que são?

A risada irrompeu de novo.


O Senhor das Moscas, de William Golding