agosto 29, 2006

Não estou mais centrada. E acho que me sentirei deslocada por um bom tempo ainda. Porque tenho verdadeiro pavor de me sentir obrigada a fazer algo. Tenho ódio de me sentir obrigada a fazer algo que odeie. Mesmo que, infinitas vezes, eu vasculhe dentro dessa imensa sacola universal a melhor das razões e a mais redonda justificativa para continuar fazendo. Para colocar tudo dentro do meu carrinho. A verdade é que a feira anda fraca. Os chuchus estão passados, as batatas enrugadas e o alface murcho e jogado em qualquer canto. E me dizem que devo fazer uma sopa saborosa com isso. E me cumprimentam, chacoalhando os meus braços e fazendo nham, nham, nham, enquanto passam suas línguas sebosas nos beiços rachados. Eu fico ali, mexendo a panela, diminuindo o fogo em alguns momentos. Sentindo que, daqui a pouco, vai começar a feder. E daí, eu não poderei fazer mais nada. E talvez seja tarde para convencer as criaturas a não tomarem esse caldo nojento. A mudarem de idéia, de comportamento, de conduta. De vida? Quem sabe um bolo? Uma banana? Ou coquinhos? Quem sabe coquinhos?!?!

agosto 28, 2006

O final de semana foi diferente. Porque, em primeiro lugar eu me propus a realizar coisas diferentes. Tudo igual. Mas diferente. Um pequeno diferente bem gostosinho com um toque leve de cheirinho de flor e calor do sol e música nos ouvidos. É verdade, é verdade... Eu me estressei muito na sexta-feira. Perto do meio-dia, já estava chorando, brigando, chorando, gritando, chorando, e colocando todas aquelas verdades para fora. O nível do estressonômetro foi até lá em cima, com aquela pontinha vermelha inchando e quase estourando tudo. O prêmio máximo... Que doeu um pouco, mas me libertou do castigo eterno de carregar a culpa e sensação de ineficiência. Eu falei tudo. Pedi demissão também. Não sei se ele aceitou, pois eu já estava soluçando tanto, que metade das palavras saíam incompreensíveis. Desliguei. O gancho novamente no aparelho de telefone. Senti a cabeça doendo, os olhos pegando fogo. E resolvi esquecer. Mesmo. Então, logo após o sinal de igual, a soma do meu final de semana mostra soninho, um livro inteiro, um pela metade, dois filmes no cinema, dois filmes no DVD, um jeans como eu procurava, um sapato novo, chuva, preguiça, família, comida/comida/comida, café na Casa de Cultura, Arctic Monkeys no CD do carro, Keane em casa, roupas para guardar, episódio de House, alguns blogs, nada de MSN, dois e-mails, um pouco de Orkut, contas em dia, recibo da empresa, chimarrão e um alívio do tamanho de um urso branco e fofinho de quatro andares me abraçando e dizendo viu, eu disse que tudo ia dar certo, não falei?

agosto 23, 2006

E para explicar essa minha ausência toda, comunico que, atualmente, o telefone da minha vida faz um único barulho. E é assim ó: tuu, tuu, tuu, tuu, tuu, tuu, tuu, tuu... Tente mais tarde, por favor.

agosto 20, 2006

Há alguns dias que venho pensando nisso... Como é possível dimensionar a bondade de alguém? Levando-se em conta diversos fatores como intenções, trocas, prêmios, gratidão, interesses... Da mesma maneira: como é possível quantificar a loucura de alguém? Julgando coisas como preferências, aventuras, vontades, opiniões. Pergunto isso porque tenho ouvido bastante. Devo ser a louca mais bondosa de Porto Alegre. Então só consigo pensar o seguinte... Se para os padrões normais, tenho tanta bondade assim, é porque tem muita gente ruim infestando esse mundo... Se nos critérios usuais, eu sou assim tão louca, deve ter muita gente que deixou de viver e aproveitar a vida há tempos. E se mundo é uma bola de golfe, eu gostaria de saber para onde a humanidade está sendo direcionada depois da tacada. Para o buraco oito?

agosto 18, 2006

Pensei em uma coisa bem feliz para escrever aqui. Impossível. Porque só de lembrar, comecei a rir muito, rolando no chão com a mão na barriga. Ê mundão que gira esse...

agosto 17, 2006

Enfiei a mão no fundo do casaco. Meus dedos bateram nas chaves de casa no bolso direito. Caminhando pela Andradas, me diverti em contar as moedas do bolso esquerdo. Repetidas vezes. 50 centavos, 25 centavos, um real, dez centavos... Até completar dois reais e setenta centavos. Uma maníaca obsessiva péssima em matemática, mas nota 100 em ética. Imagina a minha vergonha se o motorista da lotação cogitar que, mesmo por um ínfimo segundo, eu tenha pensando em passar a perna mesmo por dez centavos que fossem. Isso não poderia acontecer. 25 centavos, dez centavos, 50 centavos. Ainda caminhando pela Andradas, quase tive a orelha acertada por uma bola, chutada por um hippie de cabelos enrolados e chinelos de dedo. Tudo bem. Mais adiante, um camelô quase me derrubou ao retirar com força a lona que cobria a sua barraca. Voou poeira para todos os lados, e eu senti uma vontade de espirrar. Bem de novo. Perto da esquina, uma senhora andava exatamente na minha direção, e me empurrou com sua enorme sacola de alças contra a parede do prédio. Claro, bem. Desisti de colher raios das tempestades. Resolvi colecionar rastros luminosos de borboletas invisíveis. Aqueles que eu vejo à noite, da janela da minha casa, da sacada da minha sala na Casa de Cultura, entre as pedrinhas do calçamento da Praça da Alfândega. Tão especiais que me protegem da culpa pelos meus textos virulentos e de fatos como o motorista da lotação ter esperado eu chegar até a porta para arrancar o veículo, me deixando parada no asfalto, absolutamente incrédula. Rastros... Isso. Rastros luminosos de borboletas multicoloridas.

agosto 16, 2006

Eu não acredito. Eu estou tão revoltada que não consigo acreditar. Não posso contar, nem revelar detalhes. Porque essa história não aconteceu comigo. E não tem ligação com violência urbana, ou acidente, ou perda de qualquer forma. Tem relação com discriminação, violência contra a pessoa, e traição a um desejo profundo... Meu Deus, como existem pessoas cretinas nesse mundo, que humilham os outros, que obrigam alguém a fazer algo pelo prazer de ver o outro sofrer... Por quê? Era só o que eu queria saber hoje. Que grande merda é ter um chefe de bosta...

agosto 15, 2006


agosto 14, 2006

Não me lembro muito bem. Lembro de ter analisado minhas olheiras bem de perto no banheiro de casa. Nariz quase colado no espelho, vertigem matinal úmida de vapor quente. Me lembro de estar no carro, pé no acelerador, passando alguns sinais. Verdes. Vermelho. Amarelo gosto de laranja. Lembro de apertar 3 no elevador do trabalho. Me lembro de sucessivas xícaras de café. Meio texto. Café. Um e-mail. Café. Telefonema distorcido. Café. Café. Café. Os pés flutuaram na hora do almoço. Lembro que comi muito arroz. Não lembro do pedido, mas o garçom disse que não tinha mais Coca Light. Me lembro da sombrinha minúscula que minha mãe me emprestou. Dos cachorros amontoados debaixo da marquise para escapar dos pingos d'água. Lembro de voltar para o trabalho. Café. Café. Café. Banheiro, finalmente alívio. Lembro dos olhos fechando, se despedindo do monitor, os dedos se encolhendo de leve, e o corpo encurvando. Lembro do barulho. Do solavanco. Lembro de pensar: acorda, Lu. Acorda! Lembro de me ver na cama. Tentando acomodar os cobertores embolados nas minhas pernas. Me lembro da noite clareando no fim, do meu desespero. Do meu sono. Lembro da tortura do relógio, arrastando ponteiros-correntes e assombrando a minha tarde. Lembro que tem muito tempo ainda. E que poderia desmaiar de tanto relaxar no yoga. Lembro dos olhinhos fechando por completo. E dos risinhos nada contidos das coleguinhas. Café. Café. Café. Um sanduíche para embrulhar o estômago para viagem. Lembro de contar os minutos para ir embora. Depois, lembro de escrever no blog sobre cama, travesseiros, olhos, café preto quentinho descendo pela goela. Só isso que eu lembro.

agosto 13, 2006

Tenho ficado exigente. Auto-exigência. Na frente da telinha do notebook, escrevo um texto inteiro, com todo o argumento na cabeça. Escrevo tudo... Reescrevo algumas partes. Leio, leio... Nada parece me agradar. Penso que o raciocínio pode circular de forma diferente. Tento me lembrar de imprimir os sentimentos às linhas. Me apego à simulação dos anseios dos meus leitores. Sim, porque tenho a pretensão de dizer que conheço os meus leitores. Aí, reescrevo uma segunda versão, logo abaixo da inicial. Tudo diferente. Mas tudo muito parecido no fim das contas. Coloco uma música no fone de ouvido. Nem assim.

E a pressão das horas me intimando, para não perder o calendário automático de publicação. Um post por dia, média de quatro comentários por post. Auto-exigência, auto-superação, satisfação inatingível. Sei que às vezes sou o meu pior concorrente, meu mais terrível carrasco, a encarnação daquele mestre absolutamente insatisfeito e descrente do pupilo. Seguro o mouse com delicadeza, seleciono tudo e teclo Del.

Hoje não. Quem sabe amanhã.

Um sábado inusitado. Chá de fraldas do bebê Santiago no Garagem Hermética às três da tarde. Cachorrinho-quente e cerveja. Varal de recordações da Bina e do André, com prendedores de roupa, fotos e sapatilhas da bailarina. Um zine clássico como lembrancinha, com textos sobre parto humanizado e fotos da nova mãezinha. Amigos, toda a felicidade do mundo para vocês.

agosto 12, 2006




O prazer das pequenas coisas. Eu e o meu finalmente meu exemplar de O cavalo perdido e outras historias, do uruguaio Felisberto Hernandez. Tenho que dizer: valeu Cosac Naify. E obrigada, Mari... Pelo presente.

agosto 11, 2006

Eu sou má. Principalmente quando estou trabalhando. Especialmente quando estou escrevendo. São nesses momentos de maldade que tenho alguns hábitos especiais. Normalmente chego em casa, ligo a televisão, permito que a minha cabeça descanse por 17 ou 28 minutos (depende do dia e do calendário lunar), como alguma coisa, faço o planejamento do cenário, desloco as almofadas, ligo o notebook na tomada, armo a bandeja com apoios, coloco o equipamento nessa pseudomesa, sento no sofá, situo a bandeja no colo, me ajeito, acomodo e, depois de duas ou três viradas, estou literalmente presa e pronta para começar o texto.

Na terça-feira, teclei A - G - O, e a música começou. A todo o volume. Usualmente, trabalho com música. Mas não Ana Carolina. Não na potência máxima das caixas de som. Pensei. Um segundo. Dois segundos. Três milésimos de segundo para me desvencilhar das coisas e ir até a janela e descobrir que tudo fazia parte da grande noite de amor que o meu vizinho de porta preparou para alguém. Oh, que querido! Pelo jeito ele pretendia compartilhar o momento com todo o bairro. Me senti na obrigação de contribuir. Peguei o CD do Rancid, coloquei na terceira gaveta do meu som, selecionei a música nove e girei o botão do volume até 38, 39, 40, 39... Tá bom! E lá fomos nós.

Fiquei tão feliz com a integração que pulei, dancei, caminhei pelo apartamento todo. Durante toda a bela canção de punk rock. Quando terminou, desliguei o som e percebi o mais pretensioso silêncio. Suspirei. Desejei boa noite aos pombinhos e fui escrever o trabalho do pós-graduação. Enfim, só.

agosto 10, 2006

Fiquei pensando ontem... Com as mãos bem agarradas no volante. O que é pior? Enquanto olhava a água molhar o pára-brisa. Qual o momento de fugir? E pisando no acelerador. Então... É quando vemos o raio? Ou quando ouvimos o estrondo do relâmpago? Preciso saber.

agosto 06, 2006

A campainha tocou. Eram 11 da manhã. Domingão, chuva, trabalhos domésticos. Eu estava sozinha em casa. No susto, o copo ensaboado escorregou das luvas e foi bater numa xícara dentro da pia. Quebrou. Fechei a torneira e, na frente da porta, estiquei a ponta dos pés para enxergar o olho mágico. Tudo escuro. Pensei um pouco. Olhei de novo e enxerguei o vulto de alguém nem alto nem baixo. Eu ainda estava observando, quando a pessoa esticou o braço, acendeu a luz do corredor e tocou a campainha de novo. Puxa... Era a minha vizinha de cima. Apanhei a chave e abri a porta. Ainda cogitei: ela só poderia ter vindo reclamar do volume do meu som. Lavando louça e ouvindo Arcade Fire... Ah, maravilha interrompida. Deixei fechada a grade depois da porta, e apareci de luvas, descabelada, calça de abrigo e o meu blusão mais velho do universo inteiro. Ela nem esperou. Já foi sorrindo, mostrando o papel que estava na mão e perguntando pelo Mr. Flag. E eu só pensando: Mr. Flag me mata se souber que deixei ela entrar. Disse que ele não estava. E vi. Eva. Isso! Pelo papel, descobri que o nome da vizinha que faz péc, péc, péc com o sapato na minha cabeça, e plim, plim, plim com alguma outra coisa também em cima da minha cabeça é Eva. Eva Regina. E sem Adão ou pudor, ela passou a me contar sobre sua paixão pelo Internacional, como ela estava feliz, que o Inter ganharia a Libertadores, blá, blá, blá... Perguntou se eu tinha computador. Respondi que não. Menti para a Dona Eva. Mas disse que não se preocupasse. Eu mandaria a belíssima frase dela para a promoção do ClicRBS. Poderia até revisar e fazer algumas correções, se ela permitisse. Permitiu, agradeceu, e com as duas mãos agarrando a grade, as bochechas quase encostando o ferro, ela ficou na ponta dos pés, como eu ficara antes, e pediu: abre aí, deixa eu entrar, quero conversar sobre o texto aí dentro, abre aí... Foi me dando um pavor. Sei que, desde 98, ela tenta sem sucesso entrar no nosso apartamento. Eu pensava na fúria doméstica do Mr. Flag, no meu domingo arruinado, no desejo ardente da dona Eva de conhecer a minha casa. E a câmera focou bem no meu rosto, e eu fiquei com aquela cara de fim de capítulo de novela no sábado, e a trilha sonora aumentando, e os créditos subindo...

agosto 05, 2006

Estou mal há dois dias. Sofro porque não entendo o que tenho. Interpreto os sinais, mas não compreendo ou identifico a fonte da minha dor. Na quinta-feira à noite, estava com dor de garganta. Tomei um analgésico e um antiinflamatório para amenizar a possível gripe. Na sexta-feira, acordei tão mal que não fui trabalhar. A garganta e os olhos estavam inchados. Quase um claro sinal de intoxicação. Ou quem sabe uma reação alérgica. Do quê?! Dos quatros gatos da Fer, que ficavam no colo da Marrí e faziam a Sonia espirrar? Do vinho? Dos lotes de comida pronta que comemos antes da minha garganta começar a aumentar? Não resisti ao enigma. Desafiada, resolvi desvendar o mistério sem recorrer aos artifícios médicos de estetoscópios e exames. Sherlock Holmes do meu corpo. Estou juntando as peças. Irresponsavelmente, empurrada por essa curiosidade. Enquanto isso, me arrasto. Sentindo a garganta, a cabeça, os braços, as pernas, os pés, a barriga, o peito, e essa vontade irresistível de virar um caramujo por alguns dias. Encolhida. Encolhida. Bem encolhidinha...

agosto 01, 2006

O bom quando as tempestades cessam é que ficamos com uma perfeita noção da diferença entre o antes (dos raios e trovões) e o depois (anúncio da calmaria). Então, até mesmo reorganizar a vida e as minúcias é um prazer sem precedentes. Organizei algumas coisas hoje. Entre elas, a manutenção do meu blog para (não riam...) divulgar meus textos sérios. A avaliação do pós-graduação já chegou. E, com a autorização do meu amigo e ex-colega da Gazeta Mercantil, publico o primeiro texto do curso de jornalismo literário - a minha entrevista com o Jimi Joe. Visitem o Hummm e comentem. O endereço é http://www.luthome.blogspot.com/.