maio 31, 2006

Terminei o trabalho da pós-graduação, com o perfil do Jimi. Foram quatro dias intensos em que, praticamente, não pensei em outra coisa que não fosse o texto. Foi uma decisão louca me matricular numa especialização justo esse ano, em que o trabalho no Conselho aumentou e o centenário do Mario Quintana invadiu a CCMQ. Bem, fiquei gripada, atucanada e psicótica. Mas consegui finalizar o texto em tempo recorde. Assim eu considero... Quero compartilhar com os meus fiéis leitores o texto do Making of, que faz parte do trabalho, mas não é a matéria principal. Essa, só divulgarei quando a avaliação retornar...

Making of

Trabalhei com o Jimi Joe durante um ano na Sucursal da Gazeta Mercantil Rio Grande do Sul. Além de ser um músico e jornalista reconhecido no Estado, era idolatrado pela gurizada estagiária da redação pois dominava o assunto música e contava histórias hilárias. Uma enciclopédia musical ambulante. Diziam inclusive que podia entrevistar alguém durante horas, sem fazer sequer uma anotação. E, depois, reproduzia no jornal o diálogo fiel. Essa e outras muitas lendas que o Jimi nega.

Ao pensar no trabalho para o bimestre, a lembrança do meu colega jornalista foi automática. Além de ser duas pessoas em uma (Arzelindo Ferreira Neto e Jimi Joe), ele havia passado por uma jornada completa do herói. E talvez esse fosse o momento ideal para que eu também aproximasse a minha vida da dele novamente, depois de tantos anos de correria e sem poder se encontrar.

Fiz o perfil dele com um misto de susto e encanto. Num primeiro momento, me censurei por ter levado apenas duas fitas-cassete para o encontro. Mas depois percebi que foi um ritual necessário. Cumprido o protocolo da cronologia de sua vida e das duas horas oficiais de gravação, ele abriu seu coração e deixou que eu anotasse os seus sentimentos. Embargou a voz em diversos momentos. E eu quase chorando junto. O que as disciplinas do curso de pós-graduação podem me ensinar sobre isso? Como se faz o perfil de alguém, quando o coração dessa pessoa está nas nossas mãos? Talvez esse tenha sido o meu primeiro erro real: tentar fazer uma matéria sobre alguém que eu conhecia.

Esse compromisso e essa responsabilidade simplesmente me bloquearam. Passei a ter medo de não conseguir transmitir para o texto toda a sensibilidade e o sentimento que tínhamos vivido naquelas quatro horas de entrevista. Tentei, nesse sentido, me apropriar o máximo da literatura. Foi nesse momento que a minha experiência pessoal me prejudicou. Tive muita dificuldade em conseguir aliar o jornalismo e a literatura no texto. Passei horas escrevendo 20 linhas de literatura. E os dados foram jorrados em poucos minutos para o papel quase da forma como um repórter produz suas matérias. Faltava costurar tudo, deixar o texto agradável... Entendo que a decisão que tomei foi um pouco audaciosa.

Optei por ressaltar apenas uma parte de sua vida: aquela relacionada à música, e por tentar usar ao máximo a estrutura da narrativa mítica do herói. Resolvi desfragmentar o texto todo, mesmo sendo fiel à cronologia. E, cada um desses pontos, foi ilustrado por frases das músicas do CD que Jimi Joe lançou no ano passado, Saudades de Futuro. O texto do trabalho do bimestre e esse texto de making of foram feitos quase por instinto, tomando por base alguns conhecimentos obtidos na aula, mas seguindo um critério pessoal meu para julgar o que seria mais adequado para obter um resultado final razoável.

Confesso: doeu um pouco tudo isso. Foi quase exorcismo. Mas como o Jimi mesmo falou: pelos menos, eu escrevi (...cantei). E um pouco da tristeza foi embora.


Valeu, Jimi! Te adoro muito!

maio 29, 2006

Troque seu cachorro por uma criança pobre (Baptuba, uap baptuba)
Sem parente, sem carinho, sem ramo, sem cobre (Baptuba, uap baptuba)
Deixe na história de sua vida uma notícia nobre


Da série: "Como é possível acordar toda a segunda-feira com uma música na cabeça?!?!?!. Do nada?!"

maio 28, 2006

Meu sábado passou rápido. Cadenciado pelo ritmo de uma guitarra gaúcha e nervosa. Alimentado por xícaras e mais xícaras de café. E embalado por uma conversa deliciosa que durou mais de quatro horas. Sábado foi o dia escolhido para concretizar o meu primeiro projeto do curso de pós-graduação. Entrevistei o roqueiro cara de malvado e coração de ouro Jimi Joe. Levei duas fitas para gravar a conversa. E foi insuficiente. Sobraram, isso sim, gargalhadas no meio do Café Azul Cobalto, histórias de jornalismo e de música, ou de música e jornalismo. Ele me contou tudo. Desde o nascimento em Pedro Osório, as loucuras com os colegas de ginásio, o início como jornalista e a barra de estar enfrentando hemodiálise há alguns anos. Saímos quietinhos do café. De braços dados, andando bem devagar, contando ainda outras novidades e caminhando pela Cidade Baixa aproveitando o temporal que já alagava tudo. Gotas se confundem com lágrimas. E sentimento tem total relação com rock and roll. Verdades absolutas. Agora é deixar que tudo isso escape pelos meus dedos, direto no teclado do micro.

maio 26, 2006

- Tu viu que guria bonita essa da foto?

- Do jornal?

- É...

- Tão bonita que parece uma boneca.

- Que nojo.

- É verdade.

- Não te deu vontade de vomitar?

- Um liiixo...


Só podia ser. Sassá e eu. Sobrevivendo ao fim da sexta-feira.

maio 25, 2006


Eu decidi fazer alguma coisa. Não sei o que. Decidi ir embora. Não sei para onde. Decidi parar a rua e gritar para todos os carros. Mas ainda não sei o que dizer. Decidi que é hora de mudar o guarda-roupa. E se demorar, acabo andando pelada por aí. Decidi que quero escrever um livro. Só que ninguém me contou essa história ainda. Decidi que sou uma farsa. E, posso jurar, a tinta está saindo. Estou em crise. Só ainda não decidi o que fazer com ela. Estou me sentindo uma nota de vinte reais. De longe, até passa. Mas quando chega mais perto, se consegue perceber que a textura é diferente, o tamanho é estranho e até o corte é desigual. Porque, por mais que eu tente, nunca vou conseguir ser igual às notas que o Banco Central faz.

maio 23, 2006

Saí do trabalho a pé. Como toda a terça-feira. Na Travessa dos Cataventos, apertei a manta no pescoço, fazendo ainda mais uma volta. Dobrei à esquerda, e senti o odor característico da passarela da gordura. A reunião de três botecões de primeira e muito filé e fritas com azeite. No relógio, 19:42. Aguardei a mudança do visor digital. 12º. Frio, frio. Um vento que cortava minhas orelhas. Saudei o bom e velho Rossi, meu lugar preferido para aumentar a taxa de colesterol e comer o melhor a la minuta do mundo. Várias fontes confirmam isso. Atravesso a João Manuel e já sinto o perfume da bergamota. Delícia. Sigo até o novo café, pertinho da faixa de pedestres da Caldas Júnior. Ali, debaixo de uma das sacadas do Correio do Povo, o cheiro do Big Mac embrulha meu estômago. Adentro a Praça da Alfândega, terreno que concentra os prédios mais lindos do Centro. Continuo andando, olhando para cima. Com calma, pois a rua estava vazia e eu não corria o risco de trombar com ninguém. O céu do mesclado mais lindo. Violeta se misturando com azul escuro e negro profundo. Como o inverno do Sul. Ao final do corredor dos camelôs, encontrei o Lineu e sua carrocinha de milho verde. Exitei mais uma vez. A pasta impediria de comer prazeirosamente o milho com as duas mãos. Como ele merecia. Também avistei a churrasqueira do Zé Waldir e seus espetinhos de carne suculentos. Entrei na rua do estacionamento das bicicletas, longe do fluxo da Andradas. Sempre torcendo para que ninguém me siga. Ouvi passos, e apurei, com o olhar fixo na esquina que, aos poucos, ia se aproximando. Dobrei à direita e avistei a lotação. O segredo é andar pelo meio da rua. Aprendi isso. O fiscal desconfia que pode ser um passageiro, e segura o ônibus por mais um segundo. Nem precisei sinalizar. Ele já me conhece. E me indicou a escada. "É a Mont'serrat. Não vai precisar esperar hoje". Entrei. E encostei o rosto na poltrona, para me esquentar um pouco. Cantando até chegar em casa. Bem baixinho. "Purify the colors, purify my mind. And spread the ashes of the colors over this heart of mine!"

maio 22, 2006








Fotos: Chegada em Gramado no dia 17 de maio
James Hunter
Equipe da comunicação
Abertura do evento no Hotel Serra Azul
Marco Aurélio Ferreira Vianna
Pausa para chimas e pão-de-queijo
Kleiton e Kledir
Ana Maria Rodrigues
Café e lareira
Fim de evento no sábado

maio 15, 2006

Essa é a minha mensagem da garrafa. Com a minha carta desabafo, jogada no mar virtual. Às vezes, acho muito fácil me apegar ao universo do quase não-existente para resolver os meus problemas. A verdade verdadeira é que, seguidamente, enlouqueço. Os primeiros sinais aparecem quando começo a publicar muitas bobagens no blog. "Merdas", como diz o meu irmão. E a verdade verdadeira real é que não pode ser fácil levar a vida que eu adotei pra mim. Nunca pensei que seria. Minha idéia era estar totalmente adaptada em seis ou sete meses. De cara não consegui. Acordo cedo, vou para o primeiro trabalho. Saio correndo dez minutos antes do meio-dia. Às 12h, chego no segundo trabalho. Ligo o computador, olho algumas mensagens importantes e saio para almoçar. Correndo um pouco, pois tenho que estar de volta perto das 13h, para trabalhar até 19h (nos dias de yoga), 19h30min, 20h... Vou seguindo... Seguindo... Dormindo um pouco mais, um pouco menos. Tentando equilibrar tudo isso com as agendas do Mr. Flag, da família Thomé, dos amigos, do pós-graduação, dos trabalhos da minha empresa... Em alguns dias, trabalho manhã, tarde e noite. E ainda assim, não consigo cobrir o buraco negro da minha conta corrente. Em algumas noites, eu acordo de meia em meia hora. Me lembrando de tarefas do dia-a-dia, fazendo discurso, defendendo o que eu acho certo e eliminando o que eu acho errado. Quem pode dormir com dois milhões de idéias na cabeça? Quem pode relaxar e deixar tudo pra depois? Eu não. E ainda tento escrever novos textos/contos nesses intervalos que eu não tenho. Já pensei em largar tudo. Pedir demissão dessa vida, avisar os amigos e me mudar para um lugar calmo, tranqüilo e com uma praia só minha.A minha casa está um caos. Há meses eu não organizo meus papéis, e os livros seguem empilhados em diferentes lugares conforme a finalidade dos mesmos. Vou viajar amanhã e me dei conta de que esqueci totalmente de levar minhas roupas na semana passada. O que é isso? A minha mensagem na garrafa. Socorro...

maio 13, 2006

Meu curso de pós-graduação está me ensinando muitas coisas. Principalmente, está me mostrando como me conhecer, antes que eu possa conhecer outras pessoas para produzir seus perfis, biografias e histórias de vida. É como uma esponja que a gente passa na alma. Bem de levinho, sem esfregar. Porque não precisamos ferir a alma. Às vezes, basta um carinho. Ontem à noite, passei a esponja num dos meus demônios do passado. Minha querida colega Lorena, de Santana do Livramento, me fez relembrar um pesadelo. O nome dele: Ingo. Estilo germânico, rígido e muito mal humorado. Olhos escuros, careca opaca, calças de abrigo, camiseta e o temido apito. Ele foi meu professor de educação física durante a faculdade de jornalismo. Uma cadeira que não me ajudaria em nada para o meu trabalho na redação do jornal. Mas, verdadeiramente, foi uma matrícula do estilo "pague para entrar e reze para sair". E eu rezei. Para que a tortura interminável nas aulas de ginástica acabasse. Para que chegasse o dia em que ele não me repreenderia por coisas como o meu tênis, minha calça e meu completo ódio por abdominais. Sempre tive uma barriguinha. Ela faz parte da minha trajetória, e eu exigi respeito por isso. Ele achava impossível que eu aceitasse continuar a vida com aquele pequeno acúmulo de gordura. No entanto, esse acúmulo era "eu", e "eu" não podia aceitar a padronização da minha pessoa. Nunca faria parte do seu exército de esqueletos sem cérebro, mas com muitos músculos. E ele me castigou por isso. Me deixou em recuperação. O meu primeiro G2. Me fez correr inúmeros quilômetros num dia de inverno e chuva. Até alargador nasal eu usei. Achei que teria um treco. Se tivesse, uma colega já estava orientada a chamar a polícia e a imprensa. Eu queria ver o professor atrás das grades. Torturado, talvez. Terminada a prova, eu ainda fui humilhada por ele em público e recebi 5,5 como nota final. Até hoje, eu nunca mais corri. Caminhando, a paisagem é muito mais bonita. O senhor perdeu isso. A paisagem. Sabia, professor?

maio 12, 2006

Feliz aniversário, Elinho!




A semana acabou. Acabou. Estou cansada. Foi quase uma gincana do mal, com muitas tarefas, missões quase impossíveis. Estou gripada. Meu corpo todo dói. Minha cabeça lateja. A semana acabou. Acabou. Fiquei feliz quando me dei conta que hoje foi sexta-feira. Puxa, foi difícil essa semana. Confesso. E tchau.

maio 11, 2006


Porque meu ouvido virou extensão do telefone. Meus dedos vivem para o teclado. E meus olhos só vêem o que é monitor. Estou virando um robô. Um robô que usa camiseta, brincos de pérola e bracelete... E só se enxerga através de fotografias.

maio 09, 2006

Em semanas de muito trabalho, sobrevivo a partir de listas com itens e mais itens de tarefas. E meu oxigênio é riscar uma a uma. Risquei mais de 20 tarefas hoje. Um dia movimentado, ainda mais se levar em conta que o telefone toca a cada dez minutos, que eu troco algumas idéias pelo MSN, que pessoas entram na sala e perguntam coisas, que outras pessoas entram na sala e pedem coisas e que, como ninguém é máquina, o intervalo do café é sagrado. Portanto, foi com muita risada que, no meio dessa confusão toda, recebo uma mensagem no meu celular. Uma frase que já virou lenda urbana entre meus colegas na Casa de Cultura. Algo que só pode ter sido proferido por um gênio, e que todas as gerações futuras devem saber. Algo muito importante. Prestem atenção. A mensagem dizia o seguinte:

"Tua vó tá no super".

É... Eu mereço...

maio 08, 2006


Rascunho do conto que produzi na tarde de sábado. No meio da aula de pós. Na maior empolgação. Olha a rabiscalhada geral! U-hu!

maio 07, 2006

53 ou 54 quilos. Até tomar alguma atitude, esse deverá ser o nome provisório do blog. Todo o processo da cirurgia nos olhos, o estresse do último mês e o friozinho batendo por aí despertaram o meu desejo pelas delícias da comida. Porque eu não podia deixar de comer três pratos de feijoada na sexta-feira. Embora o Napp tenha me carregado para a minha sala na Casa de Cultura, pois passei um pouco mal. Porque quando faz frio, tomamos café no lanche da tarde. A Sassá comprou cuecas viradas, e eu não podia negar essa gentileza. Porque eu não posso deixar de compartilhar com os meus colegas de pós-graduação e não comer as delícias que a nossa colega e editora do caderno de gastronomia da Zero Hora, Bete Duarte, faz para os nossos intervalos. Biscoitos diversos, bolo de chocolate, bolo de abacaxi. Porque eu não podia negar o convite do Mr. Flag para comer batatas-suíças na fria noite de ontem. Claro, mesmo depois de ter comido cachorrinhos-quentes no aniversário de um aninho do Pedro Henrique. Porque eu não posso negar que adoro quando a mãe faz almoço no domingo. E eu capricho no pratão, pra mostrar isso pra ela. Porque é uma dádiva quando, no fim de tarde do domingo, eu descubro que sabor tem a Bolacha Maria de Chocolate. E, nesse caso de descoberta, comi mais de dez, para ter certeza que estava gostando. Vai uma bolachinha aí?

Interessante o que eu encontrei no dicionário de filosofia do meu professor.

A separação entre loucura e saúde mental é difícil de situar: aparecendo como particularmente permeável à luz de alguns exemplos ilustres (Hölderin, Nietzsche, Artaud), questionada pelo surrealismo, é objeto na antipsiquiatria de uma espécie de inversão de perspectiva, por exemplo, quando D. Cooper evoca o "louco presente em cada um de nós, embora a pessoa totalmente normalizada só carregue em si mesmo o cadáver de seu próprio louco assassinado".

maio 06, 2006

A aula do pós-graduação dessa semana me trouxe lembranças e sentimentos recorrentes da minha adolescência. Um deles forte: sempre tive horror da tabela periódica. Medo mesmo nas aulas de química. E muito mais do que isso: era uma completa extraterrestre nas aulas de física. Assistia a matéria, ou tentava. Achava mais interessante acompanhar o discurso sobre vetores e cálculos como se fosse aula de grego. E me divertia muito com os comentários dos meninos sobre a multifuncionalidade da bengala do professor. Segundo eles, além de servir de apoio, a bengala tinha um compartimento secreto, acessado pelo adorno, que armazenava líquidos. Algo que ele, possivelmente, bebericava nos intervalos. Uísque ou cachaça. Essa informação nunca foi muito precisa. Exata era a nota que eu tirava na matéria. 7. Na média. Dose e medida certas para conseguir escapar sem que aquele maldito trem, andando a 68 quilômetros por hora, e carregado de enxofre e carga atômica, passava por cima de mim em "X" fatais minutos.

maio 04, 2006

Eu tenho vizinhos. E como não tê-los? Alguns são fofos. Minha vizinha do lado esquerdo acorda em Buenos Aires todos os domingos. Ela e os seus maravilhosos tangos. Meus vizinhos do lado direito são tantos que eu acredito que, a cada semana, alguém diferente mora ali. No térreo, a Dona Lúcia me apresenta às flores do jardim todos os dias. E uma outra ilustre e distinta senhora do segundo andar me lança olhares de ódio pois ela acredita que eu é que odeio o animal de estimação dela. Pobre cachorrinha. Mesmo considerando a personalidade e os hábitos de cada um, nada supera o mistério que envolve a vizinha do apartamento superior ao meu. Durante mais de um ano, se comportou como um fantasma. Eu sabia que ela estava lá, mas, às vezes, suspeitava de um certo dom de flutuar dos seus pés. Ela ficava lá, fazendo doces de figo, pêra e abóbora. Eu ficava aqui, assistindo tevê, lendo meus livros e ouvindo música. Passamos verão, outono, inverno e primavera. E, aí, tudo mudou. Fiquei mais de um mês sem encontrá-la pelo prédio. E, de repente, eis que surge um salto alto. "Péc, péc, péc, péc". Por toda a casa. Por toda a noite. Desde às 7 da matina "Péc, péc, péc, péc" bem na minha cabeça. Tinha duas alternativas. Imaginar que ela, de namorado novo, abandonara as pantufas e os pijamas coloridos. Ou ter a certeza absoluta de que ela fôra seqüestrada por uma mulher de cabelo chanel, levemente encaracolados, salto agulha, bico fino e chicote afiado. Porque todas as mulheres más são assim mesmo... E descobri o impossível: externando a idéia sobre a vizinha, os acontecimentos cessavam. "Mr. Flag, está ouvindo esse barulho?". Não estava. E o salto parou, o terror aumentou e a curiosidade quase me matou. Nos quatro meses seguintes, ela acompanhou minha rotina pela casa. Se eu estava na cozinha, lá ia ela e começava: "Plic, plic, plic, plic-plic". Como centenas de parafusos batendo no chão e quicando um pouco. "Ah, deve estar arrumando algo em casa..." Mas toda a noite? Com todos esses parafusos? Um milhão de parafusos fazendo "plic, plic, plic" bem na minha cabeça. Aí falei. Pra alguém. E parou. E digo: tenho certeza que, depois, começou a espalmar o chão. Forte. "Plát, plát, plát, plát". Uma mãozona na direção da cerâmica. Às vezes, eu mal ouvia a tevê. As palmadas aumentaram. E cessaram por alguns dias. Hoje, enquanto escrevo, ela está correndo pela casa, e jogando coisas num canto da sala. Instrumentos pesados, eu acho. Acho, inclusive, que está batendo mais forte dessa vez. Estranho. Ouço mais barulho. Acho que aquilo ali no teto é um buraco. Isso aqui no chão são pedaços de concreto. Estranho... Poderia jurar que, daqui onde estou, enxergo um salto envernizado...

O corpo cresceu. A cabeça também. Mas o cabelo... tá igualzinho!

Meus padrinhos (Paulo, Simone, Ana e Jaca) e eu.

maio 02, 2006


Querida Moni,
Tu estás longe. Com a Tess. Coisas mais ricas desse mundo. Aqui, tudo continua a mesma coisa. Bem, com algumas pequenas mudanças. Aprendi a fazer meu próprio chimarrão. Já era tempo. Comprei também uma mateira e uma bomba. E, agora, percorro a cidade atrás da cuia perfeita. Está difícil. Mas assim que fechar um conjunto, mandarei pelo correio uma bomba e uma cuia pra ti, gaudéria! Não é só porque estás em Rondônia que vai abandonar o chima. Estou trabalhando novamente a mil. Recuperei a visão nos dois olhos. Quer dizer, 90% dela. O suficiente para ficar mais de dez horas na frente do computador, como o habitual. Voltei a ler com vontade. E já fiz todos os planos de leituras do semestre. Até junho termino a trilogia do futuro, com Laranja Mecânica, 1984 e Admirável Mundo Novo. Sigo firme no curso de pós-graduação em Jornalismo Literário. Quem sabe não apareço por Ji-Paraná e aproveito para fazer uma matéria especial sobre um personagem lendário daí? E toda essa evolução, fez com que eu voltasse a escrever. Muito! Palavras, palavras e frases na minha cabeça. No domingo, fiquei com inveja de ver tua imagem no vídeo. De blusa de alcinha. Aposto que estava também de bermudas ou saia. Sabe quem voltou ao Rio Grande? O frio. Sim, estava previsto. Nunca acredito nessas previsões. Mesmo assim, saí hoje de casa com duas blusas, um casaco e um chapéu para esquentar a cabeça. O inverno chegou antes do cabelo crescer. Daqui a duas semanas, congelarei meus pezinhos já frios por natureza em Gramado. Tem um evento do Conselho e vou ficar por lá uns seis dias. Frio, fondue, frio, vinho, frio, comida italiana!!!!! O Mano diz que estou escrevendo muita bobagem no blog. Eu concordo. Mas não podia deixar de fazer um post especial para dar boas-vindas a uma das minhas leitoras mais cativas. Tô com frio, Moni!!!!


maio 01, 2006


Na sexta. Trabalho normal. Fome anormal. Batata-frita no almoço. Torrada no lanche da tarde. Aula à noite. Muito boa. Sono desesperado.
No sábado. Aula às 8. Bufê italiano ao meio-dia. Aula até às 18. Ainda melhor. Heróis e heroínas. Passeio na Casa de Cultura com a profê Denise e com a Ângela. Picadinho a Maria Luiza no jantar com Mr. Flag.
No domingo. Arcade Fire na hora do banho. Brique da Redenção com a Denise e a Ângela. Chimarrão, chimarrão. Compras. Almoço com a família. Janta no apê. Sem festa. Sono desesperador de novo.
Na segunda. Bloc Party na hora do banho. Café da manhã com meus pais. Almoço cedo. Café aromatizado de sobremesa. Chimarrão. Temperatura baixa. Boina na cuca. São Leopoldo depois das 16. Padre Reus. Roscas de polvilho em Novo Hamburgo. Fotos no carro. Franz Ferdinand no fim da tarde. Trabalho no notebook. Besteiras para o blog.