abril 26, 2009

O que lhe importava a vida de outra pessoa, o que lhe importava a sua própria? Tinha-se sempre de pôr a vida em jogo apenas por dever, por uma disposição para o sacrifício, e nunca por capricho, paixão ou apenas para medir-se com o destino?!

E outra vez, ocorreu-lhe que possivelmente já trazia no corpo o germe de uma doença fatal. Não seria demasiado estúpido morrer porque uma criança diftérica tossira-lhe no rosto? Talvez ele já estivesse doente. Será que não tinha febre? Será que, na realidade, não estava deitado em sua cama... e tudo aquilo que acreditava ter vivido não fora mais que um delírio?!

Breve romance de sonho, de Arthur Schnitzler

abril 21, 2009

O que? Destaque no Estadão. Hã? Na FestiPoa Literária também. Hein? Ficção de Polpa 3 vindo aí! Cuma? Mais notícias de eventos e etc. Onde? Na Newsletter 6 da Não Editora. Clique para ler.

abril 14, 2009

A sorte favorece o ousado - Fortes fortuna adiuvat

ou

Samir enchendo minha cabeça com uma substância chamada esperança.

abril 13, 2009

Nas paredes do quarto, apenas musgo. Um cheiro fétido de coisas guardadas. Objetos esverdeados pelo mofo. Tudo já degradado, tudo velho, antes mesmo do tempo. No centro do quarto, minha cama. De madeira apodrecida, nem sei como ainda se mantém de pé. No centro da cama, meu corpo. Dilacerado, aberto por feridas em carne viva. Repleto de nódoas roxas e amarelas. De furúnculos. Meu corpo carcomido pela ancestralidade do quarto. Impossibilitado de se movimentar. No centro do corpo, a máquina de escrever. O teclado quase todo apagado, a tinta por acabar. Minhas mãos enxovalhadas pelo sangue seco teclam, uma a uma, as letras que escrevo.

A chave da casa, de Tatiana Salem Levy

abril 12, 2009

O urologista que diagnosticou meu câncer quando eu tinha sessenta e dois anos comentou comigo depois, solidário: "Sei que isto não consola ninguém, mas o senhor não está sozinho - essa doença virou uma verdadeira epidemia nos Estados Unidos. Tem muitos outros homens engajados na mesma luta que o senhor. No seu caso, é uma pena eu não lhe dar esse diagnóstico só daqui a dez anos", dando a entender que, num tempo futuro, a impotência causada pela remoção da próstata seria uma perda menos dolorosa. Assim, resolvi minimizar a perda me esforçando para fazer de conta que o desejo havia diminuído naturalmente, até que entrei em contato, por menos de uma hora, com uma mulher bela, privilegiada, inteligente, tranqüila, lânguida, de trinta e dois anos, cujos temores a tornavam sedutoramente vulnerável, e conheci a amarga sensação de desamparo de um velho que, sentindo-se provocado, morre de vontade de voltar a ser um homem inteiro.

Fantasma sai de cena, de Philip Roth

abril 02, 2009

A voz do meu pai estava suave e repousante.
- É você, papai?
- Meu amor, nós te procuramos em toda parte.
- Posso voltar pra casa?
- Claro, mas que pergunta!
- Pai, jura que nunca vai me perguntar nada sobre esses 3 meses?
- Juro... Fala com a sua mãe.

A voz da minha mãe também estava muito terna.
- Estou muito feliz...
- Mãe, por favor, não chora.
- São lágrimas de alegria.
- Mãe...
-Vem, volta pra casa, meu amor, estamos te esperando...
- Mãe...
- Ninguém vai te perguntar nada, prometido!


Persépolis, de Marjane Satrapi

abril 01, 2009

Sim! A gente sempre melhora com a idade. Pela primeira vez, eu fiz uma lista negra pós-aniversário. Está no Moleskine. Bem guardadinha. A Pollyanna? Acorrentei e amordacei. Deu um pouco, né?