junho 06, 2004

Um senhor solitário dá um passeio pela Casa de Cultura todos os fins de semana. Depois de circular, sem destino, por uns 30 minutos, pára no orelhão, em frente à Central de Informações. Sentada do outro lado do balcão, atendo o ramal 204, informo os visitantes e acompanho o dito. Ele fala. Fala muito. Conversa, dá risada. Algumas vezes, escuto gargalhadas. A conversa rola solta. Com o canto do olho direito, ele me analisa. Cabisbaixa, vejo o meu relógio de pulso. Mais de 40 minutos. Esta ligação telefônica parece interminável. Cartão nenhum resistiria. Amizade nenhuma agüentaria uma ligação a cobrar com esta duração. Ele fala. Olha para mim. Fala mais baixo quando vê que estou atendendo alguém. E, de repente, parece enlouquecer: Alô!!!! Alô!!!! Será que a ligação caiu? Parece que sim. Finjo ler o jornal. Ele vira de costas. Não coloca cartão nenhum no aparelho. Começa discando 1. Disca 5. E depois, vai encostando (sem pressionar) outros dez números. Levanto para buscar um café. Amanhã, conto para os meus colegas. É verdade. Ele conversa com ele mesmo o tempo todo.

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