Um senhor solitário dá um passeio pela Casa de Cultura todos os fins de semana. Depois de circular, sem destino, por uns 30 minutos, pára no orelhão, em frente à Central de Informações. Sentada do outro lado do balcão, atendo o ramal 204, informo os visitantes e acompanho o dito. Ele fala. Fala muito. Conversa, dá risada. Algumas vezes, escuto gargalhadas. A conversa rola solta. Com o canto do olho direito, ele me analisa. Cabisbaixa, vejo o meu relógio de pulso. Mais de 40 minutos. Esta ligação telefônica parece interminável. Cartão nenhum resistiria. Amizade nenhuma agüentaria uma ligação a cobrar com esta duração. Ele fala. Olha para mim. Fala mais baixo quando vê que estou atendendo alguém. E, de repente, parece enlouquecer: Alô!!!! Alô!!!! Será que a ligação caiu? Parece que sim. Finjo ler o jornal. Ele vira de costas. Não coloca cartão nenhum no aparelho. Começa discando 1. Disca 5. E depois, vai encostando (sem pressionar) outros dez números. Levanto para buscar um café. Amanhã, conto para os meus colegas. É verdade. Ele conversa com ele mesmo o tempo todo.
junho 06, 2004
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