abril 20, 2004

Estou longe do blog há bastante tempo. Lotada de trabalho. Com a cabeça a mil. Mas... sabe... andei pensando. A vida é engraçada. E mais engraçado ainda é perceber as coisas engraçadas. E rir. Claro, se o tempo e a paciência permitirem. Então, estou rindo. Depois de 12 horas ininterruptas de trabalho em frente ao computador e alguns graus a mais de astigmatismo... aqui estou eu. Analisando a minha própria vida. Tudo para não pensar na morte da bezerra. Ou pegar o telefone e fazer um DDI para a Tunísia e não ter dinheiro para comprar laranja na feira. Vamos lá. Aperte o cinto. A conclusão é a seguinte: desde janeiro, mês em que me mudei para a casa de meu querido-fofo-prestativo-futebolístico-carinhoso esposo, passei por algumas fases. Para ser mais precisa: etapas de comportamento e alterações freqüentes de humor (além das típicas crises temporárias de surtos psicóticos). Não devo ser a primeira. Mas o engraçado é exatamente este: conseguir me enxergar como um pessoa comum, em meio a toda a loucura que está minha vida (principalmente a jornalística...). Acompanhe cada uma das etapas.

1ª ETAPA - a chorona: depois de suar bicas carregando malas de um lado para o outro, descarregando malas de um lado para o outro, limpando tudo de cima da escada ou ajoelhada no chão, socando tudo para dentro de gavetas, armários e similares... É isto... Bateu aquela tristeza, um sentimento de vazio, que me fez chorar por dois dias. Choros assim baixinhos, quase sem lágrima, de não se saber o motivo, mas de doer assim mesmo. Tomar banho e chorar um pouquinho. Jantar e chorar um pouquinho. Dormir soluçando. Depois passou...

2ª ETAPA - a traste: nada parece funcionar. Nada faz sentido. Pra quê fazer as coisas? A roupa não se lava sozinha? E por que a louça da pia simplesmente não desaparece? Eu não tinha forças. Trabalhava o dia inteiro e voltava para casa diretamente para a parte funda do sofá. Aquela em que, há uma semana, eu encostava meu corpo cansado, nos mesmos vincos, nas mesmas dobras. Éramos um único ser, atirado no meio da sala. Ele, vermelho. Eu, uma plasta. A rainha de todas elas...

3ª ETAPA - a reclamenta: e um dia, eu acordei. De verdade. Para a vida. Para o mundo completo das reclamações sem fim. Abria a janela pela manhã e gritava com os taxistas barulhentos embaixo da minha janela. Comprei briga com uma vizinha por causa de um cachorro. Fedorento, é verdade. Mas o bichinho não tinha culpa. E o Elio... Coitadinho... Impliquei com o futebol, com a bola, com os uniformes, com o time titular, com o time reserva. Sobrou até para o dono da quadra. Ok. Confesso. Odiei de Pelé a Triguinho...

4ª ETAPA - a depressiva: quando o fogo parou de sair de meus olhos, me senti culpada. Por não fazer nada para mudar a situação, por não saber como fazer para mudar a situação. Na primeira semana desta etapa, cheguei a voltar para o buraco negro no sofá. Desta vez, para apagar no sono profundo dos culpados. E sonhar com a vida que acontecia na televisão. A telinha passou a ser minha fonte de forças. As novelas estavam fantásticas, cheias de intrigas, de mistérios, de tudo um pouco. E a televisão brilhava. Eu garanto. E só para mim...

5ª ETAPA - a voyer: e um dia eu cansei. O plim plim não era mais suficiente. Depois de cinco minutos, o mundo mágico das novelas me cansava. E foi então que eu descobri o melhor dos entretenimentos: a minha janela. Tenho centenas de vizinhos. Por conseqüência, centenas de janelas. Uma coisa. Virei oficialmente, aquelas tias que ficam penduradas na janela, olhando todo mundo. Acompanhei, em primeira mão, uma grave violação do regimento do nosso prédio, embaixo da minha janela. Fofoquei no outro dia pela manhã com o zelador. Ouvi os comentários das vizinhas. E, depois, acompanhei o síndico espalhar notificações em todos os carros irregulares. U-hu!! Eu era sim uma condômina atuante e conhecedora dos meus direitos e deveres.

6ª ETAPA - a solidária: eles foram uns ingratos. Não reconheceram meus esforços. E eu desisti do condomínio, da janela, de tudo. Comecei a ter interesse pelas lidas... domésticas. Nada melhor para relaxar do trabalho fazendo uma jantinha, sujando panelas e pratos, para lavar tudo depois. Cantarolando, ensaiando passinhos. Em frente à pia. Blusa molhada de sabão. E sorriso no rosto. Barriga quente, barriga fria. Barriga quente, barriga fria. Não vejo mais TV. Não tenho mais sono. Mas só de pensar na cozinha, lotada de louça e de roupa pra lavar, tenho uma vontade incontrolável.

7ª ETAPA - a controlada descontrolada: lavei tudo. Tudo. Fiquei exausta. Quietinha, penso por que tenho tanto trabalho, como minha vida mudou desde que eu me mudei e que, por vários compromissos, estou longe do blog há bastante tempo. Lotada de trabalho. Com a cabeça a mil. Mas... sabe... andei pensando. A vida é engraçada. E mais engraçado ainda é perceber as coisas engraçadas. E rir. Claro, se o tempo e a paciência permitirem. Então, estou rindo.

Um comentário:

Anônimo disse...

ADOREI O TEU BLOG CONTINUAR A POSTAR MUITO E MUITO APEAR DO TEMPO ESCASSO