Não consegui dormir. Assim que deitei, meu estômago foi doendo mais e mais e mais, e eu só tinha conseguido marcar o médico pro final de semana seguinte com aquela bosta de plano de saúde. Tinha vontade de beber muito pra me anestesiar, mas só de pensar em ingerir qualquer coisa vagamente alcoólica eu já me imaginava estrebuchando sobre o piso da sala, com uma hemorragia interna, babando sangue que o Churras lamberia da minha boca e do chão depois que tudo estivesse acabado. Revirei o banheiro e os bolsos da calça em busca de analgésicos, encontrei dois comprimidos e tomei os dois ao mesmo tempo. Só fizeram efeito depois de uma hora, e então eu já não tinha mais sono. Fiquei à beira da janela, ora em pé, ora sentado no braço do sofá, acendendo cigarros a intervalos irregulares, soltando a fumaça na brisa da noite, que chegava àquela altura trazendo o cheiro do asfalto morno e das calçadas mijadas. Me debrucei sobre o parapeito por alguns minutos, ficando alguns centímetros mais próximo dos telhados encardidos e dos letreiros em neon dos hotéis baratos que circundavam o prédio.
Até o dia em que o cão morreu, de Daniel Galera
setembro 20, 2009
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