agosto 28, 2007

O painel piscou, indicando: 091 – Guichê 07. Atravessei uma parede de vidros. O maravilhoso mundo dos serviços públicos. Sempre tenho o mesmo pensamento: "sorria para a atendente, sorria para a atendente". Eu fui funcionária pública por quatro anos. E sempre atendi bem o público (até mesmo os que vinham até a sala para brigar...). Uma vez, uma senhora achou meu sorriso lindo, e não foi embora até que eu dissesse a marca da pasta de dentes que usava. Enfim... Olhei para a atendente. Sorri. Estiquei os papéis na mesa e fui sentando na cadeira plástica azul. Ela não retribuiu o sorriso. E eu fui aos limites: tentei falar algo engraçado, ou algo. Saiu assim: "Oi! Vim aqui fazer um pedido de ligação de luz! Espero que tenha trazido todos os documentos necessários!" Ela me olhou. Direcionou os óculos para as quatro folhas em cima da mesa e, antes de encostar nelas, disse: "Não! Já vi que está tudo errado!". E, durante dois minutos, ouvi o sermão do porquê tenho que levar cópias de outros papéis, escrever de próprio punho um pedido de ligamento da luz e assinar, e levar outras coisas com firma reconhecida. Burocracia. Mal humor. Procedimentos obsoletos. Nem pensei que ainda teria que correr ao cartório. Nem pensei na sustentabilidade versus aquele lote de papéis. Acho que nem mesmo chateada eu fiquei. Mas como tudo fica difícil quando falta um ingrediente simples: a simpatia... Precisarei voltar lá amanhã. Posso até ir com a minha armadura e machadinha... Mas, mesmo sem esforço, ela ainda vai enxergar o meu sorriso atrás de todo o ferro...

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