"Nós temos a mesma altura", observaram os dois quando suas costas se tocaram, prontos para dar os dez passos, cada um para um lado. De espectadores havia Miguel Ramírez em alguma fresta. McCoy, que passara a noite insone, viu a cena e, incrédulo, chamou Maria e algumas moças para assistir. Juan acreditou ter visto Sergio na janela do segundo andar da casa do pai, embora preferisse que o menino não presenciasse a morte iminente do tio.
O vento convidava a areia para dançar uma valsa. Ela bailou pelo ar com elegância, e grãos assentaram-se nas frestas dos dentes de Juan. Areia nos dentes. A pior sensação que conhecia. Era sentir o tempo no corpo, senti-lo tão perto e tão irrefutável. Tomar consciência de que um dia, talvez muito em breve, ele, Juan, estaria abaixo da areia, enterrado por toda a eternidade. Esquecido.
Areia nos dentes, de Antônio Xerxenesky
* O livro ainda é inédito. Será o primeiro lançamento da Não Editora em 2008. A sessão de autógrafos está marcada para o dia 08 de maio na Palavraria em Porto Alegre.
abril 19, 2008
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