setembro 29, 2006

Depois de quase três meses, levantei da cama disposta a fazer diferente. Peguei meu jeans novo. A camiseta nova. E, abandonando o par de tênis, separei o sapato novo. Uma nova mulherzinha. Mas, na realidade, um desafio de correr para todos os lados com um salto logo abaixo do calcanhar, subindo e descendo as escadas da Casa de Cultura, e atravessando o Centro para ir entregar papéis e documentos autenticados. Tudo bem... Quase 30 reais para autenticar 11 documentos. Ok. Não vou falar disso. Conto o seguinte: saí de casa, toda arrumadinha. Do meu prédio até a garagem, o pé já doeu. Doeu mais quando eu tentei ignorar o couro novo. Respirei. Entrei no carro e dirigi até o 7º Tabelionato na Mostardeiro. Consegui uma vaga longe. Estacionei, paguei o parquímetro e saí caminhando pela calçada, elegantemente. O pé latejando. Cheguei no balcão, entreguei os papéis e, claro, reclamei do preço. Os impostos comem o nosso calcanhar, o atendente me respondeu. Literalmente, eu pensei. Fui sentar no banco, próximo do caixa, para aguardar a chamada. Passante vai, passante vem, um menino deixa cair no chão uma carteira de trabalho. A Pollyanna, Super-woman, Madre Teresa em mim sempre fala mais alto nesses momentos. Pedi para o senhor sentado ao meu lado cuidar da minha bolsa, apanhei a carteira e fui correndo até a porta para tentar alcançar o rapaz. "Hey!", eu gritava e o sapato afundava no calcanhar. "Hey, hey!", afundou muito mais. Quase na calçada, ele me ouviu. Estendeu o braço, pegou a carteira e agradeceu a minha gentileza, com um sorriso bem sincero. Eu fiquei feliz. E voltei mancando para o meu lugar. Ainda tenho todo o dia pela frente. Acreditando na força do band-aid e da paciência.

Nenhum comentário: