setembro 06, 2006

Mr. Flag me acordou às 7h15min. Foi se despedir e me dar um recado importante. A frase "Lulis, o chuveiro está estragado" perfurou meus ouvidos como agulhas de tricô. Perguntei se ele havia tomado banho. Claro que não, respondeu. Questionei "e agora?". Ele ordenou que eu me afastasse do chuveiro e, em hipótese alguma, tentasse trocar a resistência sozinha. "Isso não é coisa de menina". Ele se deslocou na direção da sala, mas eu tenho certeza que ainda ouviu meus gritos de "tomar banho é que é coisa de menina!!!!". Dez graus na rua. Dez. Um pouco mais dentro de casa. E o horário contado para não perder a manicure e não chegar atrasada no trabalho. A maratona começou às 7h42min. Permaneci alguns minutos embaixo das cobertas, arquitetando um plano infalível. E já meditando. "Não está frio, não está frio, não está..." Vesti um roupão por cima do pijama. Com um banquinho da cozinha, tentei por três minutos abrir o chuveiro. Mexe aqui, mexe ali. Pensando a todo o momento que poderia ser eletrocutada. As mãos já doíam de tanto forçar o plástico. Desisti. Perda de tempo. E, de maneira alguma, sairia descabelada pela rua para caminhar três quadras até a ferragem. Dez graus na rua. Plano B. O mais corajoso de todos. Liguei o aquecedor no banheiro. Enchi a espagueteira de água. Lotei a chaleira de água. As duas no fogo, e eu separando toda a minha roupa. O banheiro estava ficando quente. Mas eu ainda estava de blusão de lã. A água estava ficando quente. Mas nunca se sabe na hora do banho. Sem pensar agora. O segredo foi não pensar. Levei a água quente até o banheiro, abracei minha bacia plástica rosa de estimação e me desejei toda a sorte do mundo. Temperei um pouco a água, me ajoelhei no chão e me atirei penhasco abaixo... Chuá, chuá, chuá, por infinitos minutos. Peguei a água na bacia, com a conchinha da mão, e joguei nas costas. Ensaboei, ensaboei. O joelho doendo no tapetinho gelado. Dez graus na rua. Joguei água na cabeça, e distribui o xampu do jeito que deu. Joguei água, água. Coloquei um pouco de condicionador, o resto da água na bacia e tudo por cima de mim, como cachoeira. Tremendo, peguei a toalha e comecei a dançar e cantar "Alalaô-ôôô-ôôô". Mais dois minutos e estava vestida. Gelada, dos pés à cabeça. Sai de casa. Limpinha. Cheirosa. Na rua, 12 graus. Dentro de mim, ainda o termômetro vital em oito. Até agora.

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