novembro 11, 2006

Chove um pouco. Imprescindível sair para almoçar. Entre o escape de um ou outro paralelepípedo, o calcanhar toca numa pontinha de qualquer coisa no chão. Começa a coçar. A agonia dura o almoço inteiro. Garfada na batata-frita, coceira. Dois quilos de carne na boca ao mesmo tempo, coceira. Nada diminui a sensação, nem bater com o pé mais forte no cordão da calçada. A sola é daquelas duras. Poderia arrebentar o plástico e o osso e não faria a menor diferença. A próxima tentativa é abstrair. Ir até o banheiro, caminhar um pouco, acertar a conta na banca de autógrafos da Feira do Livro. Nem o susto com tudo o que eu gastei de livros esse ano ameniza. Nem o sacar do cartão de crédito e minha assinatura no comprovante. Volto para a sala. Entupo meu café de adoçante. Eca. Mas nem isso, nem isso. Tento ler o novo livro, algumas linhas, insuportável. Sem saída, sento e começo a desamarrar o enorme cadarço do meu All Star preto e branco. Não sei pra quê tanta corda. Atinjo o êxtase de uma vida, finalmente cravando as unhas no calcanhar, por cima da meia mesmo. A perna dobrada e ação sem parar. Segundos de alívio, até que o chefe (o presidente, sim...) aparece na porta e arregala os olhos quando vê esse ser coçando muito uma pobre meinha branca. Jornalista, empresária, projeto embrionário de escritora, sem sapato, aliviando a coceira como ser um primitivo... Um dia feliz. Definitivamente.

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