agosto 14, 2006

Não me lembro muito bem. Lembro de ter analisado minhas olheiras bem de perto no banheiro de casa. Nariz quase colado no espelho, vertigem matinal úmida de vapor quente. Me lembro de estar no carro, pé no acelerador, passando alguns sinais. Verdes. Vermelho. Amarelo gosto de laranja. Lembro de apertar 3 no elevador do trabalho. Me lembro de sucessivas xícaras de café. Meio texto. Café. Um e-mail. Café. Telefonema distorcido. Café. Café. Café. Os pés flutuaram na hora do almoço. Lembro que comi muito arroz. Não lembro do pedido, mas o garçom disse que não tinha mais Coca Light. Me lembro da sombrinha minúscula que minha mãe me emprestou. Dos cachorros amontoados debaixo da marquise para escapar dos pingos d'água. Lembro de voltar para o trabalho. Café. Café. Café. Banheiro, finalmente alívio. Lembro dos olhos fechando, se despedindo do monitor, os dedos se encolhendo de leve, e o corpo encurvando. Lembro do barulho. Do solavanco. Lembro de pensar: acorda, Lu. Acorda! Lembro de me ver na cama. Tentando acomodar os cobertores embolados nas minhas pernas. Me lembro da noite clareando no fim, do meu desespero. Do meu sono. Lembro da tortura do relógio, arrastando ponteiros-correntes e assombrando a minha tarde. Lembro que tem muito tempo ainda. E que poderia desmaiar de tanto relaxar no yoga. Lembro dos olhinhos fechando por completo. E dos risinhos nada contidos das coleguinhas. Café. Café. Café. Um sanduíche para embrulhar o estômago para viagem. Lembro de contar os minutos para ir embora. Depois, lembro de escrever no blog sobre cama, travesseiros, olhos, café preto quentinho descendo pela goela. Só isso que eu lembro.

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