agosto 17, 2006

Enfiei a mão no fundo do casaco. Meus dedos bateram nas chaves de casa no bolso direito. Caminhando pela Andradas, me diverti em contar as moedas do bolso esquerdo. Repetidas vezes. 50 centavos, 25 centavos, um real, dez centavos... Até completar dois reais e setenta centavos. Uma maníaca obsessiva péssima em matemática, mas nota 100 em ética. Imagina a minha vergonha se o motorista da lotação cogitar que, mesmo por um ínfimo segundo, eu tenha pensando em passar a perna mesmo por dez centavos que fossem. Isso não poderia acontecer. 25 centavos, dez centavos, 50 centavos. Ainda caminhando pela Andradas, quase tive a orelha acertada por uma bola, chutada por um hippie de cabelos enrolados e chinelos de dedo. Tudo bem. Mais adiante, um camelô quase me derrubou ao retirar com força a lona que cobria a sua barraca. Voou poeira para todos os lados, e eu senti uma vontade de espirrar. Bem de novo. Perto da esquina, uma senhora andava exatamente na minha direção, e me empurrou com sua enorme sacola de alças contra a parede do prédio. Claro, bem. Desisti de colher raios das tempestades. Resolvi colecionar rastros luminosos de borboletas invisíveis. Aqueles que eu vejo à noite, da janela da minha casa, da sacada da minha sala na Casa de Cultura, entre as pedrinhas do calçamento da Praça da Alfândega. Tão especiais que me protegem da culpa pelos meus textos virulentos e de fatos como o motorista da lotação ter esperado eu chegar até a porta para arrancar o veículo, me deixando parada no asfalto, absolutamente incrédula. Rastros... Isso. Rastros luminosos de borboletas multicoloridas.

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