O dia amanheceu frio hoje. Depois da chuva de ontem, até minha memória foi lavada. Num estalo, me lembrei do meu plantão. Estava desfeito o meu sonho de um fim de semana de folga plena. Liguei para a Casa de Cultura e verifiquei a informação. Castigo confirmado. Sem saída, preparei a cuia, saquei a bomba e, de mateira no ombro, adentrei o Centro deserto de Porto Alegre. Poucas almas passeavam pela CCMQ. A maioria delas, penadas.
"Cinema a R$ 8,00. Teatro Carlos Carvalho no segundo andar, saindo do elevador à direita. Ingressos para o cinema na Sala Eduardo Hirtz, do outro lado da Travessa. Museu do Brinquedo no quinto andar. Quarto do Poeta no segundo andar na outra ala. Teatro Bruno Kiefer no sexto andar. Café Concerto? No sétimo andar pelo elevador da outra ala".
E o Mariozinho atrás de mim, ouvindo as perguntas, e rindo das respostas. "São sempre as mesmas. As perguntas e as respostas. As respostas e as perguntas". Sim. Sou um gravador com casaco e cachecol, e posso até mesmo repetir as indicações em seqüência, sem prejuízo algum. Ele achou divertido na primeira hora. Depois, se cansou. E acabou enfiando os óculos enormes no jornal, concentrado nas notícias sobre o sermão do jogador de futebol no presidente. "Uma bolada na cara dele". Literalmente.
Conversamos sobre poesia. Sobre autores franceses. E, antes que eu pudesse perceber, ele havia caído em sono profundo. Não pude nem conversar sobre a agenda de passeios e visitas a escolas no mês de junho. Passei o resto do tempo cuidando para que os visitantes falassem baixo, e que as crianças diminuíssem a algazarra. Precisava preservar o soninho do poeta. Nananana, nananana, nana-na-nananana, nananana, nananana, nanana-nana-nana...
junho 11, 2006
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