Continuei ouvindo como se estivesse interessada em seus elogios, mas estava absorta em minhas próprias observações: o modo como falava quase o tempo todo olhando para o lado, não como se fitasse algo atrás da minha cabeça mas para o lado mesmo, a noventa graus de mim, porém me encarando de vez em quando com uma incrível intensidade, os olhos negros bem abertos, redondos, um olhar do qual era impossível desviar até que ele próprio decidisse romper o elo; sua boca cheia e um pouco escura; o rosto que trazia à mente a infinidade de músculos faciais que passamos a vida ignorando existir; a camisa branca impecável por baixo da jaqueta gasta e as ondas de seriedade que emanavam dele. Não parecia alguém que faria uma brincadeira. Cada palavra que enunciava vinha com a garantia de ter sido escolhida a dedo, de conter um significado que não podia ser ignorado. Pensei que daria um pai chatíssimo.
Cordilheira, de Daniel Galera
dezembro 14, 2008
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3 comentários:
por debaixo de uma pele
o horizonte escandido
profundidade que repele.
Lindo! Gostei!
Beijos!
os textos dele são excelentes!
parabéns pelo blog :)
beijos!
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