abril 27, 2006

Liguei o computador e ele logo apareceu. Parecia piscar pra mim. Uma paquera? Um desafio, com certeza. Ele se mostrava e sumia pelo branco profundo da tela. Aparecia e sumia, aparecia e sumia. Levei a sério a brincadeira. Ninguém poderia me provocar dessa maneira e sair impune. Persegui-o por todo o espaço. Tentei recordar todas as lembranças, todos os bons momentos, as gargalhadas que eu dei e que o mundo todo deveria saber. Puxei a memória. Enxerguei meu rosto no espelho como se eu fosse Luana, Camila, Tatiana, Vanessa, Juliana... se transformando em Carlos, Manoel, José, Sérgio, Adriano. Quase o alcancei. Ele continuava correndo, aparecendo e sumindo, e conseguindo escapar quando eu estava sempre quase lá. Contei nos dedos todos os bons livros que já havia lido. E falei, falei, falei sem parar sobre Lispectors, Bettegas, Kafkas, Perecs, Quintanas. Falei sobre livros que contavam a história de pessoas que eu achava que eram eu mesma, e que foram mais longe do que eu sequer sonhei. Falei de sons e de música, rock mesmo. Tentei o convencer de que era realmente necessário sacudir o corpo e gritar, gritar de verdade, se fosse preciso. Porque temos uma voz, porque temos várias vontades. E dancei um pouco. Achava que, se fosse divertido, ele desejaria parar. Mas não parava. Continuava aparecendo e sumindo, e eu perseguindo, perseguindo. Buscando ter todas as novas idéias possíveis em um mínimo milésimo de segundos. E ganhamos o mundo. Passei por terras que não conhecia, vi paisagens que eram ainda mais perfeitas de olhos fechados. E cansei. Fui parando bem devagar, curvando o corpo, me encolhendo, bem redondo. E me aninhei numa grama fofa meio rosada. Adormeci. E estou acordando agora desse sono...

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