abril 20, 2006

Meus olhos ainda estão secos. O alívio durou poucos dias. Hoje, tanto esquerdo quanto direito estavam perseguindo com afinco ideais de Saara. Em alguns momentos, sinto o êxtase da liberdade. Por um minuto ou dois, minha visão torna-se normal e a sensação de pressão no olho diminui. Essa é a hora em que o cérebro não entende nada. Me acostumei rápido a não enxergar e, quando enxergo, ele emite sinais para a mão direita que, rapidamente, se dirige para o espaço entre a testa e o nariz para acomodar um óculos que não existe mais. Parei de dirigir por uns dias. E isso foi barbada. Complicado é lidar com essa imperfeição visual. Me perguntaram: "Como é enxergar como tu enxerga agora?" É como estar presa dentro de mim mesma. Pois a audição ficou mais apurada. E os olhos, por mais que procurem, não encontram nada. Virei um personagem de Réquiem para um Sonho. E, naquela seqüência clássica de imagens rápidas e sons cadenciados, eu abro a bolsa, pego o frasco, sacudo, abro a tampa, aperto a embalagem, arregalo os olhos, pingo o colírio e solto um suspiro relaxado.

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