julho 01, 2006

Ainda restavam algumas horas do dia. Olhei para os meus pés, e vi que os pequenos dedos se apoiavam com força no tecido. E provocavam o impulso necessário para projetar o tronco levemente para a frente e, com o braço direito, abaixar a aba da rede. Meu pai estava em pé, ao lado da grande árvore que sustentava uma das pontas. Virei o rosto e sorri para ele. Pedi que embalasse a rede. Continuamente. Esquerda e direita. Esse lado aqui e o lado de lá. Eu tocava a grama no chão, sentia a terra sujando a mão com vontade. Agarrava algumas folhas secas e analisava cada um de seus retículos. Como se fossem os fios condutores que relatassem a história dessa semente que originou a folha, que lá do alto analisava o mundo. E que, um dia, despregando-se do galho, decidiu alçar vôo. E se atirou na direção do desconhecido. Veio parar aqui. Perto de mim. Sempre perto de mim. Coloquei-a próxima do meu rosto, e adormeci. De um lado para o outro. Sem sentir o tic-tac, sem precisar contar nada. Estendendo as mãos e ganhando os abraços mais inesquecíveis do mundo. Morrendo de rir com a Moni, à sombra da pitangueira. Sem que nos déssemos conta de que nossos rostos estavam completamente sujos e roxos depois de comer as frutas. Brincando de escolinha com a Mari. Ensinando que um mais um fazem dois. Ajudando a mãe a fazer o Mano adormecer. Tocando de leve a sua testa e fazendo um carinho bem, bem suave. Dormi sorrindo com tudo isso. E acordei quando já era noite. Ainda deitada na rede, avistei a luz da casa. Segui pisando forte pelo caminho de pedregulhos, para chegar até a porta, abrí-la, e contar para todo mundo que esse meu mundo de sonhos era real.

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